Por David Lawder e Karin Strohecker
(Reuters) - O crescente endividamento nos mercados emergentes significa que a China, agora o maior credor oficial do mundo, precisará começar a reestruturar dívidas da mesma forma que os credores do Clube de Paris fizeram em crises anteriores, disse a economista-chefe do Banco Mundial, Carmen Reinhart, na conferência Reuters Next nesta terça-feira.
"O que eu acho que a China precisará fazer para enfrentar isso é o que outros credores fizeram, que é você ter que reestruturar. E reestruturar bastante, com taxas de juros mais baixas, prazos mais longos, amortização ou alguma combinação disso", afirmou Reinhart em um painel de discussão sobre desigualdade econômica.
Ela disse que durante a pandemia de Covid-19 a China precisa assumir um "novo papel" que tem sido um "antigo papel" para os credores do Clube de Paris, já que Pequim está agora enfrentando, pela primeira vez, spreads mais amplos e dificuldades na capacidade dos países de pagar a dívida em larga escala.
A China assinou uma iniciativa de suspensão da dívida do G20 que permite a 73 dos países mais pobres do mundo suspender os pagamentos de dívidas bilaterais oficiais para ajudar a financiar programas de saúde, e concordou com uma nova estrutura de reestruturação da dívida do G20.
"O verdadeiro desafio é o próximo, quando avançamos para o estágio em que você tem que enfrentar as baixas contábeis reais", disse Reinhart.
Reinhart, economista de Harvard que ingressou no Banco Mundial em junho de 2020, pesquisou e escreveu extensivamente sobre crises financeiras. No ano passado, ela foi coautora de um artigo acadêmico sobre empréstimos da China no exterior que mostrou que até 50% deles não são reportados ao Banco Mundial ou ao Fundo Monetário Internacional.
O presidente do Banco Mundial, David Malpass, advertiu que, sem um alívio mais permanente da dívida, mais pessoas nos países em desenvolvimento irão para a pobreza e uma repetição dos padrões desordenados da década de 1980 poderá ocorrer. Ele tem pressionado a China por uma participação plena nos esforços de alívio da dívida, incluindo dívidas emitidas por empresas estatais.
A inadimplência dos mercados emergentes na América Latina e no leste da Ásia levou a esforços de cancelamento geral de dívida, como o plano Brady no final dos anos 1980 e a iniciativa dos Países Pobres Altamente Endividados (HIPC) nos anos 1990.
Questionada se outra iniciativa HIPC era necessária, Reinhart disse: "Não acho que chegamos ainda a esse ponto", observando que a estrutura comum do G20 para a reestruturação da dívida adota uma abordagem mais caso a caso.