Investing.com – Após um dos eventos mais esperados do ano, o corte de juros pelo Federal Reserve dos Estados Unidos, a percepção é de que o ciclo de flexibilização pode aliviar algumas dificuldades de países da América Latina, muitas vezes sujeitos a financiamentos externos, e com postura mais cautelosa quando as taxas de juros externas sobem. No entanto, ainda que os bancos centrais da região possam estar mais confortáveis em continuar com seus ciclos de flexibilização, a decisão do Fed importa, mas até certo ponto. Olhando para a perspectiva no Brasil, por outro lado, a tendência é de continuidade no ciclo de alta na Selic, e a revisão fiscal anunciada pelo governo traz más notícias, acredita o banco JP Morgan.
O JP Morgan lembra que o Brasil começou o ciclo de cortes mais cedo em agosto de 2023 e agora vai na direção contrária da tendência global ao retomar a alta na Selic, conforme aumento de 25 pontos-base na última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
O banco considerou a comunicação da autoridade monetária brasileira como agressiva, sem fornecer um guidance, indicando pontos de pressão como uma atividade robusta, desancoragem das expectativas, entre outros fatores.
“Acreditamos que este ambiente externo mais positivo acompanhado de algumas considerações internas, como a moderação no crescimento econômico e menos ruídos, deve levar o BCB a subir em ritmo de aperto de apenas 25pb até a taxa Selic chegar a 11,50% no início do próximo ano”, aponta o JP Morgan, ponderando, no entanto, que os riscos são altistas, ou seja, o BCB pode elevar a Selic mais ainda.
Fiscal traz más notícias
A evolução do cenário fiscal foi mencionada na comunicação do Copom como um dos fatores que podem influenciar as próximas decisões de política monetária, tendo em vista sua importância para a ancoragem das expectativas e redução dos prêmios de risco.
O JP Morgan entende que ainda que a probabilidade de atingir a meta tenha apresentado melhorias ao longo do ano, um bloqueio adicional de R$10 bilhões teria sido mais apropriado, e não uma revisão para baixo dos congelamentos anunciados anteriormente, como realizado pelo governo.
A decisão de reduzir o bloqueio “diminui a probabilidade de uma surpresa positiva na execução orçamentária para 2024”, destacam os economistas Cassiana Fernandez, Vinicius Moreira e Mirella Sampaio, que trataram do tema em parte do relatório do banco.
Os investidores estarão atentos à próxima revisão fiscal, em 22 de novembro, além da apreciação do orçamento do ano que vem, o que deve ocorrer somente em dezembro.
“Novas medidas técnicas podem materializar-se entre agora e então, especialmente depois do ciclo eleitoral de Outubro, justificando um maior grau de cautela do que o habitual”, concluem os especialistas.