Por Leonardo Benassatto e Amanda Perobelli
PORTO ALEGRE/ELDORADO DO SUL (Reuters) -O número de mortes confirmadas em decorrência das chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul subiu para 100, com 130 pessoas ainda desaparecidas, disse a Defesa Civil do Estado em balanço nesta quarta-feira, em meio a previsões de mais chuvas fortes e agravamento das enchentes em diferentes pontos do território gaúcho.
Em seu mais recente comunicado, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul informou que há outros dois óbitos em investigação para apurar se têm relação com os eventos meteorológicos. Segundo o órgão, as chuvas na região já deixaram mais de 163 mil pessoas desalojadas, tendo atingido 425 municípios gaúchos do total de 497. Mais de 1,4 milhão de pessoas foram afetadas.
Enquanto se ampliam os esforços de resgate em cidades completamente alagadas pelas chuvas e cheias de rios da região, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) alertou nesta quarta-feira para a possibilidade "muito alta" de "novas ocorrências hidrológicas" no sudeste e sudoeste do Estado e na capital, Porto Alegre.
No comunicado, o órgão aponta que as novas ocorrências podem ser causadas pela "permanência das inundações, níveis fluviométricos elevados em vários municípios e deslocamento das ondas de cheia". As regiões sob alerta incluem as bacias do Rio Uruguai, do Lago Guaíba e do Rio Camaquã.
Em outro alerta divulgado nesta quarta-feira, a empresa de pesquisa metereológica MetSul Metereologia disse que as enchentes no sul do Estado também vão aumentar nos próximos dias.
A empresa afirmou em comunicado que a enchente decorrente da cheia da Lagoa dos Patos vai se agravar "no restante desta semana e ainda na semana que vem". De acordo a MetSul, todos os rios que deságuam na Lagoa tiveram enchente "recorde ou histórica."
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), alertou que há previsão de mais chuvas em todo o Estado já nesta quarta-feira, assim como uma queda na temperatura nos próximos dias, e reforçou pedido de doações de cobertores e roupas de inverno. No final da tarde, a chuva já havia voltado a atingir o Estado.
"Para esta quarta-feira a gente tem a projeção de temporais aqui no Rio Grande do Sul distribuídos pelo Estado. A gente deve ter em algumas localidades ventos de mais de 100km/h, talvez granizo em alguns locais", disse Leite em vídeo publicado no Instagram na noite de terça-feira.
"Além disso, deve baixar bastante a temperatura na noite de amanhã (quarta-feira)", acrescentou.
Diante da possibilidade de novas chuvas, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul alertou que ainda não é hora das pessoas que foram resgatadas -- em número que está na casa das dezenas de milhares -- retornarem às suas casas.
"A Defesa Civil do Estado orienta a população, especialmente as pessoas resgatadas na região metropolitana de Porto Alegre, que não retornem às áreas alagadas, inundadas, ou sob risco de movimentos de massa", informou o órgão em comunicado.
"Esses locais estão, ainda, sob alto risco, seja relacionado à condição física, bem como ao risco à saúde humana pela transmissão de doenças."
As chuvas recentes estão sendo apontadas por autoridades como o pior desastre climático da história do Estado.
Além de integrantes da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Forças Armadas e integrantes de forças de segurança de outros Estados enviados para ajudar nos esforços de resgate, muitos voluntários também atuavam em botes, barcos, jet skis e até em tratores para salvar pessoas das enchentes.
Foi o caso de Daniel Farias, que pilotava seu trator em Eldorado do Sul, cidade da região metropolitana de Porto Alegre fortemente devastada pelas chuvas, para levar pessoas para áreas seguras.
"Até a última hora, até o último segundo, até o último momento que essas águas baixarem eu não vou desligar o trator. Vou estar continuamente para resgatar e buscar pessoas", disse ele à Reuters.
"É um trabalho de formiguinha, continuamente, de noite, de dia, de madrugada, não tem hora", acrescentou ele, que está morando no trator e que teve a própria casa tomada pelas águas da chuva.
Outro problema enfrentado pela população gaúcha são saques, assaltos e abusos em abrigos, que têm gerado medo em meio à crise das enchentes.
Em Brasília, durante entrevista ao programa "Bom dia, ministro", do CanalGov, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai anunciar em breve uma medida para a dívida do Rio Grande do Sul com a União, que vem sendo apontada como um entrave fiscal para que o Estado faça frente às despesas exigidas neste momento de resgate e em fase posterior de reconstrução.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse nesta quarta-feira que o governo precisa de uma estimativa mínima das necessidades do Rio Grande do Sul para determinar o volume de crédito a ser disponibilizado via medida provisória. Falando a repórteres em Brasília, Costa afirmou que a preocupação é não subestimar o valor necessário.
O ministro também anunciou que o governo federal vai anunciar linhas de crédito subsidiado para os afetados pelas inundações no Rio Grande do Sul, com programas separados para micro e pequenos empresários, empresas maiores e prefeituras, além de mudanças no pagamento da dívida do Estado com a União que permitam ao governo estadual investir em recuperação.
Centenas de milhares de pessoas no Rio Grande do Sul estão sofrendo sem fornecimento de energia elétrica, água e serviços de telefonia e internet, de acordo com a Defesa Civil. Além disso, há 85 trechos em 38 rodovias estaduais gaúchas com bloqueios totais e parciais. As chuvas também provocaram problemas em rodovias federais que cortam o Estado.
(Reportagem adicional de Eduardo Simões e Fernando Cardoso, em São PauloEdição de Pedro Fonseca e Isabel Versiani)