BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira que as surpresas positivas observadas no crescimento econômico do Brasil no período recente podem ter origem em ganhos de eficiência gerados por reformas estruturais feitas no país nos últimos anos.
Falando em fórum promovido pelo JPMorgan (NYSE:JPM), Campos Neto afirmou que há cerca de oito anos economistas estimavam o crescimento potencial do PIB brasileiro em cerca de 2,8%, citando a necessidade de implementação de reformas previdenciária, trabalhista e tributária, marcos de concessões, facilitação de abertura de empresas e modernização de sistemas de pagamento.
Ao mencionar que boa parte dessa lista foi trabalhada pelo país, ao menos com atendimento parcial das demandas, o presidente do BC argumentou que ainda assim os economistas veem um crescimento potencial mais baixo do que antes, em algo próximo a 1,8%.
"Aí você se pergunta, bom, deixa eu ver se entendi. Era 2,8% e precisava fazer dez coisas. O governo trabalhou e fez grande parte das dez coisas, e agora é 1,8%? É muito difícil, esse número é não observável, acho que é muito contaminado pelos crescimentos baixos recentes, pegamos um problema atrás do outro, como pandemia", disse.
"Não tenho como provar empiricamente, mas pode ser que, em parte, as surpresas de crescimento que a gente está vendo -- já tem 15 meses de surpresa de crescimento para cima -- sejam por um ganho de eficiência cumulativo de várias coisas que foram feitas no passado", acrescentou.
Na sexta-feira, números do IBGE mostraram que o PIB brasileiro cresceu 0,9% no segundo do trimestre do ano sobre o trimestre anterior, bem acima do 0,3% projetado por economistas em pesquisa da Reuters.
PAGAMENTOS INTERNACIONAIS
Na apresentação, Campos Neto ainda afirmou que um sistema de pagamentos transfronteiriços melhorará o comércio exterior do Brasil, comentário que vem em meio a esforços da autarquia para internacionalizar o Pix.
"Poder ter uma legislação moderna, com câmbio mais moderno, com sistema de pagamento transfronteiriço digital, acho que vai melhorar muito a parte de comércio internacional, ajuda inclusive na abertura comercial", afirmou.
O presidente do BC disse que o Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) estuda mecanismos para conectar os sistemas de pagamento no mundo, citando como exemplo o modelo usado por Índia e Cingapura, que poderia ser integrado ao Pix.
"Quando a gente pensa que as pessoas ainda estão falando em moeda única quando a gente pode, na verdade, fazer um sistema digital interconectado, em tempo real, para que precisa de moeda única? Para que você vai abrir mão da sua política monetária se todos os benefícios da moeda única eu consigo hoje fazer de forma digital?", disse.
Na avaliação de Campos Neto, o mundo ainda avançou pouco nessa área, com dificuldades relacionadas aos sistemas de liquidação das operações internacionais.
Campos Neto disse ser importante reduzir custos dessas transações, o que teria impacto positivo para exportadores.
O presidente do BC ainda defendeu o Pix de críticas ao dizer que seu sistema evita fraudes por ser rastreável. Ele defendeu um aperto nos controles de cadastros de clientes pelos bancos para minimizar o uso de contas consideradas fantasmas ou laranjas.
(Por Bernardo Caram; Com reportagem adicional de Luana Maria Benedito)