Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros fecharam a quinta-feira em baixa na maioria dos vencimentos, puxadas pela queda dos rendimentos dos Treasuries no exterior, mas repercutindo também declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que reduziram as apostas de aceleração no ritmo de cortes da Selic.
Pela manhã, a tendência geral da curva a termo brasileira era de alta, dando continuidade ao movimento mais recente, na esteira da percepção de que o Federal Reserve tende a elevar mais os juros e mantê-los em patamares altos por mais tempo.
Nos EUA, porém, os rendimentos dos Treasuries se firmaram em baixa durante a tarde, em especial na ponta curta, com investidores à espera de declarações do chair do Fed, Jerome Powell, em evento às 17h, e observando as negociações nos EUA em torno do financiamento do governo a partir de 1º de outubro.
No Brasil, o viés de baixa vindo do exterior colocou as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) no negativo na maioria dos vencimentos, com destaque para os contratos mais longos, que chegaram a cair mais de 10 pontos-base. A taxa do contrato para janeiro de 2025, porém, apesar de perder o fôlego, ainda terminou o dia em leve alta, com alguns comentários de Campos Neto na apresentação do Relatório de Inflação repercutindo nos negócios.
O presidente do BC afirmou que a barra está possivelmente mais alta para a instituição considerar acelerar o ritmo de queda da Selic. Ele também enfatizou que o BC não está confortável com as expectativas de inflação acima das metas estabelecidas.
"Eu diria que a barra talvez esteja ligeiramente um pouco mais alta sim", disse Campos Neto ao ser questionado sobre o assunto em entrevista coletiva.
Os comentários de Campos Neto reforçaram a percepção de que o BC manterá o ritmo de corte de 0,50 ponto percentual da taxa básica Selic, hoje em 12,75% ao ano.
Tanto que, na curva a termo, a precificação pelo corte de 0,50 ponto percentual no encontro de novembro do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC estava em 99% perto do fechamento dos DIs (Depósitos Interfinanceiros). Para dezembro, as apostas também são de corte de 0,50 ponto percentual.
“O Campos Neto falou da dificuldade de cortar a Selic com os juros altos lá fora. É razoável pensar assim. Isso deixa, pelo menos por enquanto, a Selic mais alta. Não há condições para corte de 0,75 ponto percentual nem para dezembro”, avaliou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior.
No fim da tarde no Brasil a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,26%, ante 12,28% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,935%, ante 10,899% do ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2026 estava em 10,71%, ante 10,791%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,925%, ante 11,05%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,22%, ante 11,357%.
Pela manhã, o BC informou que sua previsão para o crescimento do PIB em 2023 passou a ser de 2,9%, ante 2,0% estimados em junho. A projeção do crescimento para 2024 é de 1,8%.
À tarde, o Tesouro informou que o governo central teve déficit primário de 26,350 bilhões de reais em agosto, ante um saldo negativo de 50,356 bilhões de reais no mesmo mês do ano passado.
O déficit do governo central, que compreende as contas de Tesouro, Banco Central e Previdência Social, veio no mês passado praticamente em linha com o rombo de 26,7 bilhões de reais projetado por analistas em pesquisa da Reuters.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries seguiam em baixa no fim da tarde.
Às 16:50 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 4,90 pontos-base, a 4,5768%.