Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros fecharam a quarta-feira em leve baixa, puxadas pelo exterior, onde os rendimentos dos Treasuries também recuavam após a inflação dos EUA sugerir que o Federal Reserve poderá ser menos duro em sua política monetária.
O principal condutor dos negócios durante o dia foram os dados da inflação norte-americana, divulgados às 9h30 (horário de Brasília). O Departamento do Trabalho informou que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,2% no mês passado, após avançar 0,1% em maio. O resultado ficou abaixo da projeção de 0,3% dos economistas ouvidos pela Reuters. Nos 12 meses até junho, o índice avançou 3,0% -- o menor aumento anual desde março de 2021. Economistas projetavam 3,1%.
Mais do que o índice cheio, o núcleo de inflação demonstrou arrefecimento, com alta de 0,2% em junho. Foi a primeira vez em seis meses que o núcleo não registrou ganhos mensais de pelo menos 0,4%. Nos 12 meses até junho, o núcleo subiu 4,8%, após alta de 5,3% em maio.
Os dados elevaram a percepção de que o Federal Reserve poderá aumentar seus juros, atualmente na faixa de 5% a 5,25% ao ano, apenas mais uma vez este ano -- e não duas vezes, como projetado pela instituição em seu último encontro de política monetária.
“O destaque (da inflação norte-americana) foi a variação mensal do Core CPI (0,2%), com o menor valor registrado desde março de 2021. Isso deve dar maior conforto ao Federal Reserve, mas julgamos que não é suficiente para ele declarar encerrado o ciclo de alta dos juros na sua próxima reunião do dia 26”, pontuou o economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, em comentário a clientes.
Neste cenário, os rendimentos dos Treasuries recuavam, assim como as taxas dos contratos futuros de juros no Brasil.
Internamente, porém, essa queda era limitada, em especial entre os contratos com prazos mais curtos, com os negócios sendo influenciados ainda pelos dados da inflação brasileira divulgados na terça-feira.
“A curva de juros fecha de ponta a ponta, mas numa magnitude tímida. O movimento de baixa, que vem do exterior, é limitado pelo IPCA de junho, que não foi tão animador quanto se pensava”, comentou Cleber Alessie Machado, gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM.
“O mercado está olhando o copo meio vazio: a inflação de serviços no IPCA veio mais resiliente, o que limita a queda de hoje (quarta-feira) das taxas futuras. Haveria até mais espaço para cair, em função dos Treasuries e da queda do dólar”, acrescentou.
Durante a tarde, as taxas de alguns contratos com prazos mais curtos zeraram as perdas, terminando bastante próximas da estabilidade. Na ponta longa, prevaleceu o viés negativo.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,84%, ante 12,845% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,785%, ante 10,771% do ajuste anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 10,105%, ante 10,107% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,11%, ante 10,132%.
O movimento do dia alterou um pouco as apostas embutidas na curva a termo para o próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, marcado para 1º e 2 de agosto.
Perto do fechamento a precificação na curva a termo brasileira era de 29% de chances de corte de 0,50 ponto percentual da Selic em agosto e de 71% de probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual. Na terça-feira, perto do fechamento, esses percentuais eram de 22% e 78%, respectivamente.
Ainda que a curva precifique chances consideráveis de redução de 0,50 ponto no próximo encontro do Copom, economistas do mercado financeiro ouvidos pela Reuters têm defendido que o cenário mais provável é, de fato, o corte de apenas 0,25 ponto percentual.