Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a segunda-feira em forte alta no Brasil, de quase 20 pontos-base em alguns vencimentos, com investidores aumentando as apostas de que a Selic pode não passar por corte na reunião de junho, após o governo Lula reduzir a meta fiscal para 2025 e, nos EUA, dados do varejo reforçarem a perspectiva de juros altos por lá por mais tempo.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 estava em 10,135%, ante 10,033% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,395%, ante 10,159% do ajuste anterior.
Já a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,755%, ante 10,486%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,08%, ante 10,817%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 11,57%, ante 11,296%.
Foi a quarta sessão consecutiva de alta das taxas dos DIs, com investidores se reposicionando em meio à piora do cenário global e do risco fiscal brasileiro.
Pela manhã, o Departamento do Comércio dos EUA informou que as vendas no varejo aumentaram 0,7% em março, acima do 0,3% projetado por economistas ouvidos pela Reuters. Já os dados de fevereiro foram revisados para alta de 0,9%, em vez do 0,6% informado anteriormente.
Os números reforçaram a avaliação de que o Federal Reserve adiará o início do processo de corte de juros, o que fez os rendimentos do Treasury de dez anos -- referência global de investimentos -- superar os 4,60%.
No Brasil, as taxas futuras de juros também foram impulsionadas na esteira do avanço dos yields. Além do fator externo, o mercado reagia às notícias de que o governo Lula reduzirá a meta fiscal para 2025 de superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para resultado primário zero.
Durante a tarde, em entrevista à Globo News, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou a meta zero para o próximo ano, o que foi mal-recebido pelo mercado.
Às 14h28, com a entrevista ainda em andamento, a taxa do DI para janeiro de 2027 atingiu 10,795% -- alta de 23 pontos-base ante o ajuste de sexta-feira.
“Tem uma série de elementos domésticos que se somam ao movimento externo muito forte. Houve uma piora da percepção global sobre juros, com fortalecimento do dólar, e no Brasil você (o governo) também está fazendo coisas que são contrárias ao que se espera”, afirmou Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset.
“Quando começou a discutir esta mudança (da meta de 2025) para 0,25%, o governo falava em tentar manter o número positivo, porque, se não conseguir atingi-lo, ficaria no zero. Agora já vem com zero”, acrescentou Lima. “Todo movimento sempre é para facilitar o aumento de gastos, e não a busca do primário melhor.”
A curva de juros traduziu o desconforto com o exterior e com o fiscal precificando mais chances de o Banco Central reduzir já em maio o ritmo de cortes da taxa básica Selic, hoje em 10,75% ao ano.
Perto do fechamento a curva a termo brasileira precificava 59% de chances de o corte da Selic em maio ser de 50 pontos-base. Já as apostas em corte de apenas 25 pontos-base subiram para 41%.
Para o encontro de junho, a curva precificava durante a tarde cerca de 70% de chances de corte de 25 pontos-base e 30% de probabilidade de não haver corte nenhum -- uma possibilidade com a qual o mercado não vinha trabalhando antes da piora do cenário.
“Está menos provável agora (um corte de 50 pontos-base em junho), mas tem chão até a reunião de maio”, comentou o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano. “Precisamos ver como o cenário evolui até lá.”
Em Nova York, os rendimentos dos Treasuries, seguiam em alta firme no fim da tarde, com investidores precificando chances menores de o Fed cortar juros no curto prazo.
Às 16h40, O rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subia 13 pontos base, a 4,624%.