Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A velocidade de crescimento das queimadas no país diminuiu na última semana, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mas depois de uma redução no número de novos focos, os últimos dois dias registraram um novo impulso nas queimadas, especialmente no Pará.
Os números do Inpe para o período de janeiro a 29 de agosto mostram que o número de focos no país chegou a 87.257, 77% maior do que no mesmo período de 2018. No último dia 19, como mostrou a Reuters, a comparação com o ano anterior mostrava um crescimento de 83%.
Nos últimos cinco dias registrados pelo Inpe, a velocidade de aparecimento de novos focos se reduziu até a terça-feira, quando 1.044 foram detectados em todo o país. Nos últimos dois dias, no entanto, o número de queimadas se acelerou novamente. Foram 1.628 na quarta-feira e 2.300 na quinta-feira.
A tendência se repete quando se isola apenas os dados do bioma Amazônia - que exclui, por exemplo, partes do Mato Grosso e do Pará, Estados que também fazem parte do bioma Cerrado e são os campeões em queimadas.
Até a última segunda-feira, o bioma registrou uma queda constante, mas partir dessa data as queimadas voltam a subir. No dia 29, quinta-feira, o Inpe detectou 1.255 novos focos na região.
Em todo o mês de agosto, a Amazônia já registra 29.359 focos, enquanto no mesmo mês no ano passado, foram 10.421 - um aumento de 182% na comparação para agosto entre os dois anos. Os números até 29 de agosto mostram um aumento das queimadas na região de 104% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Os dados do Inpe mostram ainda que os focos de queimada na Amazônia quintuplicaram entre julho e agosto, quando inicia a época da seca na região, apesar de este ano não estar sendo considerado mais seco do que a média normal para esses meses na Amazônia.
Mato Grosso continua sendo o Estado com mais focos de queimadas acumulado ao longo do ano, mas este mês foi o Pará. Apenas nos últimos cinco dias, 1.607 novos focos foram registrados. No Mato Grosso, apesar do decreto estadual estabelecendo a proibição das queimadas a partir de 15 de julho, foram 1.006 no mesmo período.
Dos 10 municípios com mais focos de incêndios acumulados nos últimos cinco dias, seis estão no Pará, sendo que Altamira e São Felix do Xingu, apontados como ponto inicial do dia do fogo, são os dois primeiros e Novo Progresso, outro local envolvido na investigação, é o quarto. Somados, os três registram 282 focos apenas na última quinta-feira.
Apesar dos números continuarem altos, o governo do presidente Jair Bolsonaro alega que a ação das Forças Armadas na região está controlando os focos e, segundo o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, o resultado final do ano ficará "abaixo das piores queimadas que já aconteceram". Questionado repetidamente sobre números, no entanto, o ministro disse não ter dados disponíveis.
Na quinta-feira, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, afirmou que o Exército estaria conseguindo combater as queimadas e que as chamas nunca tiveram a amplitude que quiseram dar.
Ambientalistas e pesquisadores culpam a retórica de desenvolvimento econômico do presidente Jair Bolsonaro pelo encorajamento de madeireiros, fazendeiros e mineiros ilegais, que aumentaram suas atuações desde que ele tomou posse em janeiro.
Quando surgiram os primeiros dados do Inpe alertando para o aumento do desmatamento na Amazônia, em julho deste ano, Bolsonaro passou a questionar os números do instituto e chegou a acusar o então presidente, Ricardo Galvão, de estar sendo pago por ONGs. Galvão terminou sendo demitido, e o governo acabou dizendo que mudaria a divulgação dos números, que precisarão passar pelo presidente em caso de mudanças significativas, antes de serem apresentados.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ainda abriu edital para contratar uma empresa privada para fornecer outras imagens da Amazônia, além das usadas pelo Inpe, como forma alternativa de coleta de dados.