Por Matthew Lavietes
NOVA YORK (Reuters) - Dezenas de pessoas do Estado norte-americano de Nova York que foram abusadas sexualmente na infância processaram instituições, incluindo a Igreja Católica, nesta quarta-feira, o primeiro dia em que uma nova lei lhes permitiu apresentar temporariamente ações civis sobre crimes cometidos há décadas.
Cerca de 85 pessoas haviam entrado com processos contra a Igreja em Nova York até o final da manhã, segundo registros da Suprema Corte do Condado de Nova York. A maioria delas acusa padres de abusá-las sexualmente na infância, e líderes da Igreja de acobertar os crimes dos padres.
A histórica Lei de Vítimas Infantis do Estado inclui uma cláusula que suspende por um ano uma prescrição que inviabilizou queixas mais antigas e que críticos diziam ser muito restritiva. A lei deve dar ensejo a centenas de ações civis contra igrejas, escolas e grupos juvenis, além de indivíduos.
Anteriormente, a maioria das vítimas de abuso sexual infantil só tinha até os 23 anos de idade para apresentar queixas criminais ou pedir indenizações em ações civis.
James Grein, hoje com pouco mais de 60 anos, estava entre os que processaram a Igreja na manhã desta quarta-feira. Ele disse que na infância foi abusado sexualmente durante anos, em Nova York e em outros locais, pelo padre que o batizou, Theodore McCarrick, e processou a Igreja por negligência. McCarrick acabou se tornando uma das figuras mais poderosas da Igreja, servindo como arcebispo de Washington de 2001 a 2006.
O Vaticano exonerou McCarrick em fevereiro depois de julgá-lo culpado de abusar sexualmente de crianças e adultos, o que o transformou em uma das figuras mais graduadas da Igreja a serem expulsas do sacerdócio nos tempos modernos.
Em uma coletiva de imprensa realizada diante da Catedral St. Patrick, em Manhattan, Grein disse aos repórteres que estava alegre e "tremendo como vara verde" ao mesmo tempo.
"É nosso presente histórico de Deus que possamos seguir em frente hoje e encerrar este assunto", disse. "Passei anos esperando. Sofri durante muitos, muitos anos."
A Arquidiocese da Igreja de Nova York disse em um comunicado nesta quarta-feira acreditar que será alvo de novas ações civis devido à mudança na lei.
A entidade disse que continuará a "convidar pessoas a considerar" um programa de indenizações criado em 2016 para pessoas abusadas sexualmente por seu clero, incluindo aquelas anteriormente impedidas pela prescrição de abrir processos.