Por Andrea Shalal
SÃO PAULO (Reuters) - Israel concordou em retomar a transferência de receitas tributárias para a Autoridade Palestina a fim de financiar serviços básicos e fortalecer a economia da Cisjordânia, disse a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, nesta terça-feira.
Yellen revelou a mudança em uma entrevista coletiva no Brasil, dizendo que as transferências de receitas "têm que continuar", mas alertando que as restrições israelenses à circulação de trabalhadores palestinos estavam paralisando o comércio tanto na Cisjordânia como em Israel.
Falando antes de uma reunião de líderes financeiros do G20, Yellen disse que levantou a questão em uma carta ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, nos últimos dois dias.
"Impedir que os residentes da Cisjordânia trabalhem em Israel tem um efeito negativo muito significativo sobre os rendimentos na Cisjordânia. E Israel também depende dessa força de trabalho", afirmou Yellen, acrescentando que a escassez de mão de obra também está prejudicando a economia de Israel.
Líderes palestinos afirmam que sua capacidade de governar tem sido efetivamente bloqueada pelas restrições israelenses, incluindo a retenção de receitas fiscais devidas nos termos dos acordos de Oslo assinados há 30 anos.
Há meses a Autoridade não vem conseguindo pagar os salários integrais do setor público devido a uma disputa sobre a recusa do Ministério das Finanças de Israel em liberar parte dos fundos.
O presidente dos EUA, Joe Biden, e seu governo têm apoiado os ataques de Israel a Gaza como necessários para erradicar o Hamas após os ataques de 7 de outubro, nos quais 1.200 pessoas foram mortas e mais de 200 foram feitas reféns. Nas últimas semanas, as autoridades norte-americanas adotaram uma postura mais crítica em relação ao ataque de Israel, conforme o número de mortos em Gaza se aproxima de 30.000.
Washington impôs recentemente sanções a quatro homens israelenses acusados de estarem envolvidos em violência de assentamentos e na sexta-feira, pela primeira vez, classificou a expansão dos assentamentos por parte de Israel como inconsistente com o direito internacional.
Yellen disse que “queria opinar” sobre as receitas israelenses e as restrições trabalhistas porque o Tesouro está envolvido nessas questões.
Autoridades dos EUA expressaram sérias preocupações de que o conflito em Gaza se espalhe para a Cisjordânia e além. Espera-se que a retomada das transferências fiscais para a Autoridade Palestina ajude a conter possíveis protestos ou tumultos nos Territórios ocupados, disse uma fonte do governo dos EUA.
Yellen afirmou que Washington não viu um impacto significativo na economia global como resultado do conflito, mas que continuará a monitorar a situação de perto.
"Trabalhamos arduamente para garantir que o conflito entre Israel, Gaza e o Hamas não se expanda para um conflito regional maior, mas se isso acontecesse, poderia haver repercussões econômicas significativas. Felizmente, não vimos isso."
O Tesouro recusou-se a divulgar uma cópia da carta de Yellen.
Yellen disse que os Estados Unidos também estão trabalhando com o setor humanitário para ajudar palestinos inocentes e levar ajuda legítima para onde é mais necessária.
“Continuamos a explorar opções para fortalecer a economia da Cisjordânia” na sequência de uma ordem executiva emitida pelo presidente Joe Biden neste mês, disse Yellen em comentários preparados.
(Reportagem de Andrea Shalal em São Paulo; reportagem adicional de David Lawder em Washington;