Por Alessandra Galloni
WASHINGTON (Reuters) - A variante Ômicron da Covid-19 pode desacelerar o ritmo do crescimento econômico global ao intensificar problemas na cadeia de abastecimento e diminuir a demanda, disse a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, na conferência Reuters Next nesta quinta-feira.
Yellen citou uma grande incerteza sobre o impacto da nova cepa, detectada pela primeira vez na África do Sul, devido à severa desaceleração econômica dos EUA causada pelo surgimento da variante Delta da Covid-19 no início deste ano.
"Com sorte, não é algo que irá atrasar o crescimento econômico significativamente", disse Yellen, acrescentando: "Há muita incerteza, mas isso pode causar problemas significativos. Ainda estamos avaliando isso."
Segundo, Yellen a nova cepa do coronavírus pode exacerbar os problemas da cadeia de abastecimento e alimentar a inflação, mas também pode deprimir a demanda e causar um crescimento econômico mais lento, o que aliviaria algumas das pressões inflacionárias.
A ex-chefe do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) disse na conferência global virtual que está pronta para deixar de usar a palavra "transitória" para descrever o estado atual da inflação que assola a recuperação diante da pandemia de Covid-19 nos EUA, uma quase repetição dos comentários feitos pelo chair do Fed, Jerome Powell, anteriormente nesta semana.
"Estou pronta para aposentar a palavra 'transitória'. Posso concordar que essa não é uma descrição adequada do que estamos enfrentando", afirmou Yellen.
Powell disse a parlamentares nesta semana que o termo tem significados distintos para pessoas diferentes, o que pode causar alguma confusão, e é um bom momento para explicar mais claramente o que significa.
ECONOMIA FORTE
Yellen insistiu que os gastos com estímulos do governo Biden no início deste ano não foram o principal impulsionador da alta dos preços ao consumidor, que subiram à taxa mais acentuada em 31 anos em outubro, ritmo de duas vezes a meta de inflação flexível do Fed de 2% ao ano.
Ela atribuiu a alta dos preços, principalmente, aos problemas da cadeia de abastecimento e ao descompasso entre a oferta e a demanda.
Yellen disse que o plano de gastos de 1,9 trilhão de dólares aprovado pelo Congresso no início deste ano ajudou norte-americanos em situação de vulnerabilidade a superar o pior da pandemia e alimentou a forte economia dos EUA.
Embora possa ter contribuído para a inflação "um pouco", ela afirmou que o aumento foi resultado, em grande parte, da pandemia e da grande transição no consumo de serviços para bens.
Ela disse que o Fed deve monitorar o aumento dos salários para evitar o tipo de "espiral salário-preços" prejudicial e duradoura vista na década de 1970.
Yellen, que liderou o Fed de 2014 a 2018, afirmou que cabe ao banco central dos EUA decidir o que fazer com os juros, mas frisou que uma forte economia norte-americana, que provavelmente levará a aumentos nos custos dos empréstimos, é geralmente uma coisa boa para o resto do mundo.
A administração do presidente Joe Biden tem trabalhado em estreita colaboração com o setor privado para conter os aumentos de preços, disse Yellen ao citar esforços para acelerar o carregamento de contêineres nos portos e encorajar a produção doméstica de semicondutores.
Segundo ela, reduzir as tarifas da era Trump sobre produtos importados da China por meio de um revivido processo de exclusão poderia ajudar a aliviar algumas pressões inflacionárias, mas não causaria uma mudança muito significativa.
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(Por Alessandra Galloni, reportagem adicional de David Lawder, Andrea Shalal e Daniel Burns)