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Acordo de livre-comércio aproxima China e Taiwan

Publicado 29.06.2010, 11:38

Pequim/Taipé, 29 jun (EFE).- China e Taiwan viraram hoje a página de 60 anos de enfrentamentos, batalhas diplomáticas e hostilidade mútuas com a assinatura de um acordo de livre-comércio que será um divisor de águas na relação entre o regime comunista e a "ilha rebelde".

O acordo, que para não ferir suscetibilidades no setor independentista taiuanês foi denominado Acordo Marco de Cooperação Econômica (AMCE), foi hoje rubricado na localidade central chinesa de Chongqing.

Cidade de grande importância histórica para comunistas e nacionalistas do Kuomintang, que se reuniram ali para negociar em 1945, quando eram liderados por Mao Tsé-tung e Chiang Kai-shek, embora nessa ocasião o fracasso do diálogo tenha levado ao início da guerra civil (1945-49) que acabou com a cisão de Taiwan.

A assinatura de hoje e os dois anos de negociações prévias não foram realizadas pelos Governos dos dois países - que não aceitam relações de Estado a Estado - mas por duas ONG s que representam um diante do outro: a chinesa associação para as relações através do estreito (ARATS) e a taiuanesa Fundação para os Intercâmbios do Estreito (SEF).

O acordo, considerado por ambas as partes o mais importante que China e Taiwan assinam em seis décadas, reduzirá tarifas de 539 artigos taiuaneses no mercado chinês (uma economia de US$ 13,8 bilhões ao Taiwan) e a 239 importadas da China à ilha (um lucro de US$ 2,860 bilhões para os chineses).

A indústria petroquímica, a de máquinas, têxtil, os serviços não financeiros (auditorias, hospitais, manutenção de aviões) são alguns dos setores que segundo os analistas serão beneficiados pelo acordo, que segundo a China é só o princípio de uma maior abertura econômica entre ambas as partes.

Também inclui um documento para a defesa mútua da propriedade intelectual, que beneficiará a rica indústria do entretenimento taiuanesa.

A assinatura marca o fim de dois anos de negociações entre ARATS e SEF, coincidindo com o retorno ao poder em Taiwan do Partido Nacionalista Kuomintang (KMT).

Essas negociações estiveram paralisadas entre 1997 e 2008, especialmente durante o Governo na ilha do independentista Chen Shui-bian (atualmente na prisão por corrupção).

Ambas as partes destacaram o histórico do acordo, que segundo afirmou hoje o presidente taiuanês, Ma Ying-jeou, em Taipé, "fomentará a internacionalização da ilha e evitará sua marginalização comercial".

Os independentistas taiuaneses, agora na oposição, receiam o tratado, ao que consideram um "cavalo de Tróia" do regime comunista para anexar de novamente a ilha.

O acordo "coloca em perigo a democracia e o estilo de vida atual", assegurou hoje a presidente do independentista Partido Democrata Progressista (PDP), Tsai Ing-wen, quem não descartou anular o tratado se seu partido retorna ao poder em 2012.

Mas o Governo nacionalista de Taiwan defende o acordo como única saída viável diante do risco de isolamento regional que corre a economia ilhoa, mais afetada pela crise global que o gigante asiático.

Os empresários taiuaneses, que defendem em sua maioria o acordo, estavam temerosos sobre os efeitos negativos do Tratado de Livre-Comércio entre China e a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), em vigor desde o início de 2010.

Há outros setores da economia taiuanesa que também veem com apreensão a aliança, entre estes as indústrias tradicionais menos competitivas e os agricultores (apesar do acordo por enquanto, por deferência a estes, não inclui redução de taxas aos produtos agrícolas).

A partir de um ponto de vista internacional, conforme os analistas, a assinatura do AMCE consolida a paz no Estreito de Formosa, abre para Taiwan a possibilidade de assinar acordos similares com outros países, e provavelmente consolidará a muito competitiva indústria tecnológica chinês-taiuanesa que fará tremer grandes concorrentes nos EUA, Japão e na UE.

A cidade onde foi assinado o acordo, Chongqing (próxima à Presa das Três Gargantas) foi durante a invasão japonesa a capital provisória da República da China que então governava o agora taiuanês KMT, por isso que a escolha desse lugar é interpretada como uma concessão simbólica dos comunistas chineses. EFE

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