Afeganistão e desafios euroatlânticos deslocam Egito da reunião de Munique

Publicado 06.02.2011, 11:35
Atualizado 06.02.2011, 12:45

Carlos Álvaro Roldán.

Munique (Alemanha), 6 fev (EFE).- O futuro do Afeganistão e os próximos desafios de segurança regionais e globais euroatlânticos centraram neste domingo os trabalhos do último dia da Conferência de Segurança de Munique, depois de os dois primeiros serem centrados nos protestos no Egito, Tunísia e Iêmen.

Neste domingo, o ministro de Exteriores e vice-chanceler alemão, Guido Westerwelle, abriu a sessão oferecendo ao presidente afegão, Hamid Karzai, o apoio da Alemanha após 2014, data prevista para a transferência definitiva de poderes às autoridades locais, mas exigiu do líder afegão combater "a corrupção e o nepotismo".

"Os aliados seguirão tendo responsabilidade com o Afeganistão além da retirada", sentenciou Westerwelle, para quem "2011 deve ser o ano da política em detrimento as ações militares".

Westerwelle defendeu que "não deve existir espaço para radicalismos" no Egito e no Afeganistão e exigiu em ambos os casos "evite-se pressões".

Com a palavra, Karzai revelou que em 21 de março vai anunciar a primeira fase do plano de transferência de poderes às autoridades afegãs.

Karzai pediu mais investimentos aos aliados e em troca prometeu "uma luta firme a favor da justiça universal, contra a corrupção e por uma administração eficaz".

Reconheceu, como previamente havia dito Westerwelle, que "a corrupção, o nepotismo, a Al Qaeda e os talibãs são os desafios mais sérios".

O governante afegão afirmou que "estão sendo dados grandes passos" e que a situação dos cidadãos afegãos "melhorou, que isso pode ser comprovado em visita ao território".

O líder afegão explicou aos presentes em Munique que no futuro o "Afeganistão será um estado que participará da segurança da região", porque "as ameaças em meu país são as ameaças de todos".

"Queremos contribuir à segurança coletiva e ao desenvolvimento econômico", ressaltou o político, quem esclareceu que Rússia e China têm papel "importante" no desenvolvimento futuro do Afeganistão.

Antes de Karzai, a ministra de Exteriores francesa, Michèle Alliot-Marie, exigiu modernização dos sistemas defensivos europeus para os futuros desafios de segurança e garantiu que "a proteção dos Estados Unidos não é universal, tampouco eterna".

"Europa deve preparar-se para contribuir à paz mundial", disse a ministra, quem pediu aos 27 um firme envolvimento na nova estrutura de segurança e defesa euroatlântica.

"Frente à complexidade das ameaças, nenhum estado está protegido, nenhum estado pode reagir sozinho", defendeu Alliot-Marie.

A ministra admitiu que a crise financeira internacional reduziu em parte os orçamentos dos países em Defesa, mas advertiu que na relação transatlântica "representa que nós estamos preparados para contribuir na mesma medida" que os Estados Unidos.

"Sejamos claros, o risco de descer de categoria estratégica é real", garantiu a ministra francesa, quem estabeleceu como prioridade modernizar as capacidades de antecipação da defesa europeia, por isso propôs renovar os satélites de reconhecimento.

Em sua última sessão, a Conferência de Segurança de Munique dedicou uma breve homenagem ao diplomata morto recentemente Richard Holbrooke, artífice junto de Carl Bildt dos Acordos Paz de Dayton (1995) na Bósnia e até sua morte (em 13 de dezembro de 2010) assessor especial do presidente dos Estados Unidos para o Afeganistão e Paquistão.

O último ato da 47ª Conferência de Segurança foi um debate sobre a Otan e Afeganistão onde os participantes defenderam "os grandes progressos" no país e a necessidade de contar no futuro com um diálogo além da fronteira com o vizinho Paquistão, no momento em que coincidiu em condenar a corrupção.

No debate discursaram Michèle Flournoy, vice-secretária de Defesa dos EUA; o senador americano Joseph Liebermann; o ministro de Exteriores polonês, Radoslaw Sikorski; o ex-ministro afegão de Exteriores Rangin Dadfar Spanta; e o almirante James Stavridis, do comando supremo da Otan na Europa. EFE

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