Washington, 23 set (EFE).- A ameaça de uma nova recessão mundial, impulsionada pela crise da dívida na zona do euro, monopoliza nesta sexta-feira os debates dos ministros de Finanças de mais de 100 países, reunidos em Washington para as assembléias anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM).
A diretora-gerente do FMI, a francesa Christine Lagarde, voltou a advertir a todos que o mundo atravessa "um momento decisivo".
Na noite de quinta-feira, os membros do Grupo dos Vinte (G20, formado pelos países mais ricos e principais emergentes) emitiram uma declaração inesperada com a intenção de tranquilizar os mercados, na qual reafirmaram sua decisão de dar "uma resposta forte e coordenada" às atuais turbulências e aos desafios enfrentados pela economia global.
O G20 coordenou a resposta internacional à crise financeira de 2008 após a explosão da bolha imobiliária nos Estados Unidos. A crise das hipotecas americanas acabou provocando a pior recessão na economia mundial desde a Grande Depressão da década de 1930.
Agora, o epicentro da crise está no coração da Europa, onde os 17 países que compartilham o euro tentam evitar a quebra das finanças públicas da Grécia e o contágio da instabilidade a outras economias maiores, como Itália e Espanha.
A própria sobrevivência do euro foi posta em dúvida nestes dias, devido à multiplicação dos sinais de alarme em torno da saúde dos bancos europeus mais expostos à dívida dos países resgatados (Grécia, Irlanda e Portugal).
Em seu discurso perante os 187 membros do FMI e do BM, a vice-presidente do Governo e ministra da Economia da Espanha, Elena Salgado, pediu para todos olharem "além da volatilidade dos mercados" e destacou "o progresso nas medidas de consolidação fiscal e de reforma financeira" tomadas na Eurozona.
De acordo com a espanhola, o acordo resultante da cúpula de julho da Eurozona constitui "um conjunto de medidas integrais para encarar as raízes da crise da dívida soberana".
Esse acordo "melhora as perspectivas de sustentabilidade da dívida grega e oferece ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) novas e mais efetivas ferramentas para garantir a estabilidade financeira e prevenir o contágio", afirmou a vice-presidente espanhola.
Fontes próximas a Elena Salgado informaram à Agência Efe que as entidades financeiras espanholas já iniciaram o processo de recapitalização após conhecer os resultados dos testes de estresse europeus, e que no final de mês todas terão conseguido uma situação folgada.
Por sua parte, o ministro de Finanças britânico, George Osborne, declarou à imprensa que os membros da Eurozona são conscientes que "o tempo está se esgotando" para iniciar a reação.
Osborne afirmou que "existe uma sensação de urgência muito maior que há três semanas, e uma grande pressão sobre a Eurozona por parte de toda a comunidade internacional".
Apesar de todos os esforços, a mensagem do G20, com pouco conteúdo novo, não pôde dissipar o nervosismo e a volatilidade dos mercados.
Os investidores continuam fugindo do risco, se refugiando nos títulos e divisas mais seguros, o que impulsiona a queda das bolsas e alavanca o preço do dólar.
Embora tenha ressaltado a "especial responsabilidade" das economias avançadas - União Europeia (UE), Estados Unidos e Japão, em particular - Lagarde advertiu que os países emergentes não escaparão da crise, se não atuarem coordenadamente.
"Não nos confundamos, o Sul não é imune aos erros do Norte. Entramos no que chamei de uma nova fase perigosa", lembrou a dirigente do FMI.
Em seu comunicado, os ministros e governadores do G20 reconheceram que os novos riscos "tornaram o clima mais incerto para os países emergentes", que estão ajustando suas políticas macroeconômicas para manter a estabilidade e sustentar o crescimento.
"Reiteramos que a excessiva volatilidade e os movimentos desordenados nas taxas de câmbio têm implicações adversas para a estabilidade econômica e financeira", informou o comunicado.
Os membros do G20 também sublinharam a promessa que tomarão "todas as ações necessárias" para preservar a estabilidade do sistema bancário e dos mercados financeiros.
"Garantiremos que os bancos estão adequadamente capitalizados e que tenham acesso ao financiamento para poder enfrentar os riscos atuais", frisou a nota. EFE