O franco crescimento do mercado de bancos digitais na América Latina, especialmente no Brasil, é impulsionado pela presença de dois players que se destacam dos demais. Nubank (NYSE:NU) e Inter (NASDAQ:INTR) lideram a transformação digital do setor bancário, que se viu em meio à crescente demanda por serviços financeiros mais acessíveis, transparentes e eficientes.
Fundado em 2013, o Nubank (BVMF:ROXO34) rapidamente se tornou o maior banco digital independente com a oferta de cartões de crédito sem tarifas, e depois oferecendo uma gama completa de produtos financeiros, como contas digitais e empréstimos pessoais, focado em um modelo de negócios que privilegia a experiência do usuário e a tecnologia de ponta. Já o Inter, criado quase 20 anos antes em 1994 como Intermedium, se reinventou em 2017 ao abraçar a digitalização, oferecendo uma plataforma integrada de banco, seguro, investimentos e marketplace de serviços para tentar se diferenciar no mercado. Ambos priorizam a simplicidade, a inovação contínua e a proximidade com o cliente para se distanciar da burocracia dos chamados bancões.
Comparando os rivais
Recentemente, o Citi lançou um relatório comparando as duas fintechs concorrentes. Em relação à base de clientes e receita, o banco norte-americano destaca que o Roxinho está em desaceleração, enquanto o Inter ainda está em estágio inicial de crescimento e tem espaço para expandir, principalmente no crédito.
Hoje, o Nubank possui um ROE de 26%, um ROA de 4,2% e uma Margem Líquida de 32%. Já o Inter apresenta um ROE de 10%, um ROA de 1,3% e uma Margem Líquida de 18%. Embora os números deste sejam menores, o Citi identifica tendência de alta em todos, enquanto o Nu está em declínio nos indicadores de rentabilidade.
Ainda assim, o Nubank tem vantagens interessantes ainda: forte marca e reconhecimento no mercado; base de clientes grande e em crescimento; expansão internacional para México e Colômbia e diversificação de produtos. As principais forças do Inter são o estágio inicial de crescimento com potencial de expansão, a diversificação de produtos e receitas, o menor custo de captação em relação ao rival e o foco em produtos com alta demanda.
O relatório ainda identifica as fraquezas de ambos os bancos digitais. O Nu precisa lidar com a desaceleração do crescimento no Brasil, o aumento da inadimplência, a dificuldade em monetizar os novos mercados (México e Colômbia) e a forte concorrência de bancos tradicionais e fintechs. O Inter tem como principais desafios a menor escala e reconhecimento de marca em comparação ao concorrente, os riscos relacionados à expansão da carteira de crédito e a concorrência acirrada no mercado digital.
Qual o valuation dos bancos?
O InvestingPro concorda com o relatório do Citi em relação ao valuation mais positivo para o Inter. Tanto o relatório (44%) quanto a ferramenta de preço-justo do Pro (45%) concordam em relação ao potencial de valorização da ação INTR para 2025. Atualmente, o preço-justo do Pro para o papel é de US$ 6,50.
Para o Nu, o indicativo do relatório é de valorização de 23% caso os múltiplos se mantenham próximos dos atuais. Já o InvestingPro aponta o preço-justo atual para o Roxinho em US$ 10,58, o que implica uma desvalorização de -9,7% para o próximo ano. Ou seja, o Pro está mais pessimista com o banco.
E os múltiplos de valuation realmente indicam que o Nubank está mais esticado atualmente. O P/L de 31,5x e P/VPA de 7,3x são significativamente maiores que os do Inter: P/L de 15,1x e P/VPA de 1,4x.
A ferramenta de Saúde Financeira do Pro também oferece uma categoria específica para valuation, o Valor Relativo. A nota do Inter é de 2,91 (C), enquanto a do Nu é de 2,53. Além do P/L e P/VPA altos, vale destacar negativamente o Earnings Yield baixo (2,3%) do Roxinho -- o indicador mede o retorno esperado de um investimento em ações, calculado como o lucro por ação dividido pela cotação, expressando o percentual de retorno sobre o preço pago. Pelo Inter, destaca-se positivamente o PEG Ratio de 0,05x -- métrica que avalia a relação entre o P/L da ação e o crescimento esperado dos seus lucros, ajudando a determinar se está subvalorizada ou supervalorizada.
O lado financeiro das fintechs
Falando em Saúde Financeira, a nota geral do Inter (2,15) é inferior à do Nubank (2,95). O Roxinho tem como grande destaque a categoria Lucratividade (nota 3,80), com destaque para o ROIC médio de 2 anos de 845% e o Retorno de Caixa sobre Capital Investido de 43,8%, além de métricas já citadas como ROE e ROA, mas que podem estar em declínio segundo o Citi.
Já a nota do Inter é puxada para baixo pelas categorias Tendência de Preço (nota 0,96 pela queda acumula de -17% no ano) e Fluxo de Caixa (nota 1,18 por conta do FCL negativo em mais de US$ 1 bilhão. O banco também possui dívida significativa, representando cerca de 200% de seu patrimônio líquido. Comparativamente, o Nu possui mais de US$ 3 bilhões positivos em FCL e dívida muito menor (representando 28% do patrimônio).
O pessimismo com o Roxinho se dá mais pelos múltiplos atuais, que só se justificam em caso de aceleração das operações, mas o cenário atual indica o contrário, com desaceleração da operação brasileira. O Inter se vê em uma posição mais favorável em valuation e potencial de crescimento, o que se traduz no upside de 45% previsto pela ferramenta de preço-justo do InvestingPro -- contra downside de 9% para o Nu.
O que você acha dos bancos digitais brasileiros?