Javier Alonso.
Paris, 8 dez (EFE).- O presidente da França, Nicolas Sarkozy,
chega à metade de seu mandato tendo de enfrentar uma forte queda de
popularidade, o que inclui críticas até mesmo em suas próprias
fileiras.
Mesmo com a França conseguindo fazer parte da lista de países que
começaram a sair da crise econômica, o ritmo de reformas, que
parecia frenético no começo de seu mandato, perdeu força com o
passar do tempo, e Sarkozy teve de começar a enfrentar a sensação
comum de que está perdendo o fôlego.
Janeiro começou com o grande debate sobre a reforma do
capitalismo lançada pelo Governo em 2008, quando a França se dedicou
a combater os excessos de uma classe financeira que buscava o lucro
rápido a qualquer preço.
Apenas um ano depois, quase nada parece ter restado daquele
empenho reformador e moralizador dos males do capitalismo selvagem,
substituído por uma intervenção em massa do Estado no estilo
"salve-se quem puder" e no qual a França, com os planos de ajuda a
sua potente indústria do automóvel, acabou servindo de exemplo a
outros países.
Mas, no plano interno, esse compromisso do Estado no resgate da
indústria nacional não evitou um Dia do Trabalho histórico no país,
com os oito sindicatos nacionais mostrando ao Governo seu
descontentamento, após vários dias de greve geral.
No entanto, não houve crise financeira ou insatisfação dos
trabalhadores que prejudicasse tanto a imagem do presidente francês
do que a indicação de seu filho Jean Sarkozy à direção do órgão que
administra o bairro empresarial La Défense, uma das regiões mais
ricas da França.
Jean Sarkozy, de apenas 23 e ainda estudante de Direito, é
vereador do distrito de Hauts-de-Seine, onde está La Defénse, e foi
indicado por seus colegas para a Presidência do Estabelecimento
Público de La Défense (Epad), organismo encarregado de administrar
esse bairro empresarial, considerado o maior da Europa.
Em um pronunciamento transmitido em horário nobre na TV francesa,
no dia 23 de outubro, o filho de Sarkozy renunciou ao posto antes
mesmo de ser eleito, e mostrou a todos que, além de tentar preservar
seu futuro político, as acusações de nepotismo da população
preocuparam o Palácio do Eliseu.
No fim do ano, o Governo Sarkozy lançou uma convocação a um
debate que será notícia no começo de 2010: uma discussão sobre "o
que é ser francês", no qual os cidadãos deverão se pronunciar sobre
a identidade nacional.
A inspiração "sarkozyana" deste debate sobre a identidade
francesa sofreu, no entanto, um leve desvio de rumo devido ao
desafio da integração dos imigrantes, tema que poderia ser
aproveitado pelos setores mais conservadores franceses.
A missão de minimizar o tema foi do primeiro-ministro François
Fillon, que parece sair de um sombrio segundo plano na política
nacional fortalecido por uma gestão "profissional" dos assuntos
diários do Governo.
No entanto, este outro lado do Governo francês, formado pelo
Partido Socialista (PS), está tão envolvido em brigas internas que
não parece ter tempo para perceber que Sarkozy está mais
enfraquecido que nunca no poder. EFE