Cessar Muñoz Acebes.
Washington, 16 mar (EFE).- Apesar da melhora nas condições
econômicas nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, banco
central) decidiu hoje que manterá a taxa básica de juros baixa "por
um longo período de tempo".
A decisão era esperada pelas bolsas, que subiram após o anúncio.
Já o dólar se desvalorizou ao ver se afastar o dia em que chegará o
ajuste monetário.
O comunicado divulgado hoje pelo Comitê de Mercado Aberto do Fed,
que dirige a política monetária dos EUA, é praticamente idêntico ao
emitido na reunião anterior, em janeiro.
Na nota de hoje, a entidade fez uma avaliação um pouco mais
positiva da economia, ao apontar que o mercado de trabalho está se
estabilizando, enquanto em janeiro falava de uma perda de força da
deterioração.
Além disso, o aumento do investimento se consolidou, segundo o
Fed, mas não no setor imobiliário, onde continuam as dificuldades.
O Departamento de Comércio informou hoje que o início de obras
caiu 5,9% em fevereiro em relação ao mês anterior, com o que, desde
2006, o indicador recuou 75%.
O Fed afirmou que os bancos seguem restringindo o crédito, o que
atinge especialmente as pequenas e médias empresas, que contam com
menos acesso a empréstimos.
Dada a elevada capacidade ociosa da economia, o Fed manteve a
opinião de que a inflação ficará contida "por algum tempo".
Nessas circunstâncias, o banco central decidiu deixar a taxa
básica de juros a curto prazo em entre 0% e 0,25%, nível em que está
desde dezembro de 2008.
"O processo de alta de taxas só começará no final do ano, pelo
menos", disse hoje à imprensa Josh Feinman, economista da DB
Advisor, que afirmou que o Fed avisará com tempo aos mercados antes
de fazer alterações.
Uma frase-chave do comunicado de hoje é a promessa do Fed de que
manterá as taxas de juros excepcionalmente baixas durante um período
prolongado, declaração que costumar dar há um ano.
Os mercados interpretam o período como seis meses, com base em
comentários de alguns membros do comitê.
Segundo analistas, uma mudança na linguagem teria assinalado que
o banco central se preparava para elevar as taxas.
No momento em que a frase for mudada, haverá uma alta "drástica"
das taxas de juros a médio prazo pela reação do mercado, com o que
acontecerá um ajuste monetário imediato, disse hoje James Knightley,
economista do ING, em nota aos clientes.
Como na reunião anterior, o presidente do Federal Reserve em
Kansas City, Thomas Hoenig, opinou que a garantia de taxas baixas já
não se justifica e que, por isso, votou contra a maioria do comitê.
De acordo com Hoenig, manter a política atual poderia levar a
acumular desequilíbrios financeiros e aumentar os riscos com relação
à estabilidade macroeconômica e financeira a longo prazo.
No comunicado de hoje, o banco central também reafirmou que
terminará a compra de títulos hipotecários no final do mês, como
estava previsto.
O Fed iniciou o programa, pelo qual adquiriu US$ 1,42 trilhão em
papéis, para reduzir as taxas hipotecárias e sustentar o mercado
imobiliário durante o momento mais difícil da crise.
Trata-se de um dos poucos programas especiais que ainda estão em
funcionamento da longa lista que o Federal Reserve lançou mão para
evitar que a recessão virasse depressão.
Embora o Fed diga há meses que encerrará essas compras, as
hipotecas a 30 anos caíram para 5%. Por isso, analistas não
acreditam que o fim do programa terá grande repercussão.
Em todo caso, o Fed deixou hoje a porta aberta para retomar as
intervenções no sistema financeiro caso, como diz o comunicado,
"considere necessário". EFE