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Especialistas dizem que falta vontade política para vencer Aids

Publicado 10.03.2010, 17:45
Atualizado 10.03.2010, 18:35

Viena, 10 mar (EFE).- A falta de vontade política e o preconceito são dois dos principais obstáculos na luta contra a Aids, uma doença que mata cinco mil pessoas por dia.

As declarações foram feitas hoje em Viena pelos responsáveis pela conferência internacional sobre a Aids que será realizada em julho. O encontro busca chamar atenção sobre a necessidade de redobrar os esforços contra a epidemia e também quer que o respeito aos direitos humanos seja uma prioridade absoluta.

"Hoje em dia temos as ferramentas para parar o HIV/Aids. Se não fizermos isso é porque não fomos capazes de mobilizar a vontade política necessária", afirmou Julio Montaner, presidente da conferência e diretor da Sociedade Internacional da Aids.

"Poderíamos vencer esta epidemia em uma geração", afirmou à Agência Efe o também responsável do Centro de Excelência em Aids/HIV da Colúmbia Britânica, no Canadá.

Ele argumentou que, inclusive, se as pesquisas para achar uma cura fossem interrompidas, a doença poderia ser vencida aplicando os conhecimentos que já temos.

Montaner recriminou os países mais ricos, que tem descumprido as promessas de conseguir para 2010 o acesso universal aos tratamentos contra a Aids e aos programas de prevenção.

"As promessas foram feitas antes da crise", lembrou. "Nem antes nem depois tínhamos dinheiro para a Aids". "A razão pela qual o dinheiro não existe é por que não é uma prioridade política. Porque os doentes, os infectados não votam", denunciou o cientista de origem argentina.

A conferência também quer centrar o interesse na relação entre direitos humanos e Aids. "Direitos aqui, agora" é o lema de uma das mesas do encontro, que espera contar com a presença de 25 mil especialistas.

"Vai ser uma conferência para pedir mais justiça social", disse Michel Sibidé, diretor-executivo do Programa da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Aids.

Sibidé afirmou que nos últimos anos os recursos contra a Aids passaram para US$ 16 bilhões, o que permitiu multiplicar por dez o número de pessoas em tratamento.

Mas o especialista lembrou que "a Aids não terminou" e pôs sobre a mesa os números da tragédia: sete mil infecções a cada dia e 400 mil bebês que nascem infectados ao ano na África.

Sibidé alertou também contra a criminalização das vítimas da Aids, especialmente dos homossexuais, prostitutas e drogados.

Nesse sentido, Montaner disse que as políticas de redução de danos (troca de seringas, drogas substitutivas) ajudam a iniciar os viciados no uso dos medicamentos retrovirais que salvarão suas vidas e reduzirão os níveis de transmissão da Aids.

"Os tratamentos com retrovirais não só permitem pôr o vírus da Aids em remissão, mas também são capazes de eliminar virtualmente a transmissão do HIV" (Vírus de Imunodeficiência Humana), inclusive de mães a filhos, indicou.

Montaner tomou como exemplo a experiência na Colúmbia Britânica, onde foi possível reduzir a taxa de contágio entre os viciados em 50%, algo que não impediu as autoridades do Canadá de denunciarem essas políticas aos tribunais.

"A luta contra a Aids está impedida por critérios, sejam religiosos, dogmáticos ou políticos, que não têm nada a ver quando estamos falando de saúde pública", disse Montaner.

"Se não enfrentarmos este problema, continentes serão devastados e como resultado teremos guerras e instabilidade social. Vamos pagar um preço que não podemos nos permitir", advertiu. EFE

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