Argentina acelera desvalorização do peso enquanto tenta frear dólar informal

Publicado 22.01.2014, 21:53

Buenos Aires, 22 jan (EFE).- Em meio às ameaças do governo para tentar frear o avanço do dólar "blue", o peso argentino se desvalorizou 3,47% nesta quarta-feira no mercado oficial frente à moeda americana, uma das maiores desvalorizações registradas em um só dia desde 2002.

O dólar subiu 24 centavos nos mercados câmbio oficiais, até os 7,14 pesos, com o que a moeda argentina acumula uma desvalorização de 9,5% desde janeiro e de 18,4% desde que Axel Kicillof assumiu a pasta de Economia, no último dia 21 de novembro.

A ascensão do dólar informal foi ainda superior e com o novo recorde alcançado hoje, quando fechou a 12,15 pesos por unidade, acumula neste ano uma valorização de 21,5%.

Os economistas atribuíram a desvalorização do peso a uma tentativa governamental de atualizar a taxa de câmbio, que se encontra atrasado em relação ao valor de mercado e prejudica as reservas internacionais, em seu nível mais baixo desde 2006.

Fausto Spotorno, economista-chefe do escritório Orlando J. Ferreres, explicou à Agência Efe que para combater o processo inflacionário, "o governo tentou congelar a taxa de câmbio" com "uma âncora no dólar e terminamos com uma taxa de câmbio atrasada".

Segundo Spotorno, o governo implementou restrições cambiais a partir de 2011, conhecidas como "cerco ao dólar", para deter a fuga de divisas sem desvalorizar a moeda, que naquele momento se cotava a 4 pesos por dólar.

Segundo sua opinião, a decisão governamental de proibir a poupança em dólares, impor novo agravo às compras no exterior com cartão e à aquisição de passagens e pacotes turísticos e limitar as aquisições pela internet "gerou uma desconfiança enorme".

Spotorno argumentou que a desvalorização gradual realizada pelo governo "levou a perder reservas, porque todo o mundo se antecipa pensando que no futuro a taxa de câmbio será mais cara".

Com a desvalorização realizada hoje, a maior desde 25 de março de 2002, quando o peso desabou 39,58%, a brecha cambial entre o dólar oficial e o "blue" se reduziu ligeiramente até 70,16%.

A escalada da divisa no mercado negro se viu favorecida pela impressão de 40 bilhões de pesos por parte do governo durante o mês de dezembro para cobrir o déficit fiscal.

O economista Ramiro Castiñeira, de Econométrica, considerou que os pesos destinados ao mercado começaram a ter incidência este mês, quando caiu a atividade e as empresas reduziram sua demanda por pesos.

"O setor privado se encontra com mais pesos dos que pode ter e perante a impossibilidade de contratar um prazo fixo porque rende menos que a taxa de inflação ou de comprar dólares (no mercado oficial) porque se encontra inabilitado vai ao paralelo e acaba inflando o preço", comentou.

O chefe de Gabinete argentino, Jorge Capitanich, advertiu hoje que o governo recorrerá à Justiça para frear o mercado negro de divisas.

"Tudo o que seja de caráter ilegal vamos combater com uma só ferramenta: a lei", disse Capitanich depois que na segunda-feira passada o governo vinculou a existência do mercado negro de divisas com a lavagem de dinheiro e o narcotráfico.

Outro objetivo da brusca desvalorização é "não expor mais as reservas", segundo Castiñeira, que apesar do "cerco" cambial caíram até US$ 29,253 bilhões.

O analista considerou que a desvalorização do peso superará este ano 40%, embora se freará após o primeiro trimestre, quando ingressem os dólares procedentes das exportações agrícolas.

Mesmo assim, antecipou que "2014 é um ano complicado para gerar divisas" porque o preço da soja não mantém a tendência de alta dos últimos anos e o Brasil "tem mais vontade de ajustar que de crescer".

"Neste cenário seria uma conquista que as exportações só se estagnem", ressaltou.

O complexo cenário diante da Argentina se agrava, segundo Castiñeira, com a perda de credibilidade internacional pela "manipulação de seu índice de inflação", que alcançou 10,9% contra os 28,38% calculado pelas consultoras privadas.

O índice foi censurado pelo Fundo Monetário Internacional e será substituído por um novo a partir deste mês.

Segundo os prognósticos da Econométrica, o ritmo de aumento de preços se acelerará ainda mais este ano e se aproximará dos 30%. EFE

Últimos comentários

Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2025 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.