BUENOS AIRES (Reuters) - Deputados da oposição argentina qualificaram nesta terça-feira de "oportunista" um projeto do governo para reformar o serviço de inteligência, depois que a misteriosa morte de um promotor que estava no centro da cena política expôs o obscuro funcionamento da agência de espionagem do país.
Um grupo de parlamentares argentinos se reuniu no Congresso Nacional nesta terça-feira para manifestar sua rejeição ao projeto, que especialistas acreditam que será aprovado sem objeções, já que o governo tem maioria em ambas as casas do Parlamento.
A oposição alegou que o projeto governista deixa o serviço de inteligência sob o comando da Procuradoria-Geral da República, que representa os promotores do país e que atualmente é comandada por Alejandra Gils Carbó, uma figura próxima ao governo.
"A primeira coisa que (as autoridades) precisam entender é sobre a gestão mafiosa que fizeram durante anos nos serviços de inteligência", disse a líder da bancada de deputados do partido GEN, Margarita Stolbizer, em entrevista coletiva junto a líderes dos demais partidos principais de oposição.
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou na segunda-feira que pretende dissolver a Secretaria de Inteligência e reformar a normativa que regula a espionagem, com o objetivo de "tornar transparente definitivamente um sistema que não tem sido inteligente... e não serviu aos serviços nacionais".
A decisão foi mais um capítulo do caso que chocou o país desde a semana passada, quando o promotor Alberto Nisman apareceu com um tiro na cabeça no banheiro do seu apartamento dias depois de acusar criminalmente Cristina de supostamente conspirar para encobrir iranianos acusados de um ataque antissemita em 1994.
A denúncia de Nisman, que também envolve o chanceler da Argentina, um parlamentar e dirigentes políticos locais, foi considerada frágil por alguns especialistas e pelo governo, que argumentou que os serviços de inteligência que colaboravam com o promotor poderiam ter oferecido informação falsa a ele.
Funcionários acreditam que agentes removidos recentemente da Secretaria de Inteligência, e que trabalhavam contra o governo, poderiam estar envolvidos na morte de Nisman.
(Reportagem de Maximiliano Rizzi)