Por Roberto Samora
NOVA MUTUM (Reuters) - O dia começou com tempo atipicamente mais frio e bastante nublado em Cuiabá, indicando que chuvas poderiam ocorrer, ainda que com atraso para o milho de Mato Grosso, especialmente aquele plantado em meados de fevereiro, que sofreu mais com a falta de umidade na temporada 2015/16.
Da capital de Mato Grosso, a expedição técnica Rally da Safra saiu na terça-feira em direção ao médio-norte mato-grossense, uma região que sozinha produz mais do que qualquer Estado do Brasil, exceto o Paraná, para apurar os problemas de produtividade de uma safra de milho que deverá ter um recuo acentuado, após atraso no plantio seguido de uma interrupção das chuvas antes do que em anos anteriores.
A consequência dessa conjuntura, constatada nos campos pelos técnicos do projeto, organizado pela Agroconsult, é de uma disparidade muito grande do potencial produtivo das lavouras. Aquele produtor que conseguiu plantar até o início de fevereiro provavelmente terá uma safra com volumes relativamente elevados, ajudada pela boa umidade vista até meados daquele mês, mas quem atrasou os trabalhos amargará resultados ruins do campo ressecado.
O Rally da Safra, acompanhado pela Reuters na terça-feira, viu algumas boas lavouras, mas também constatou nas regiões de Nova Mutum, Diamantino e Santa Rita do Trivelato um número muito maior de plantações com colheita aquém da obtida em 2015, quando o Estado colheu um recorde.
Ao ver uma entre pouquíssimas lavouras com bom potencial de 150 sacas por hectare, o analista da Agroconsult Valmir Assarice, que passou pelo mesmo trecho no ano passado, destacou que na safra anterior havia uma uniformidade de lavouras melhores, como aquela, diferentemente das plantações encontradas este ano
Segundo ele, a irregularidade climática tem limitado a produção a 40, 60, 80, 95 sacas por hectare, ou até pouco mais de 100 sacas por hectare, nas áreas menos atingidas pela seca.
"A região de Nova Mutum tradicionalmente é bem produtiva, mas não está. Quer dizer que este ano foi seco", disse Assarice, à Reuters, após uma das paradas para levantar o número de grãos, espigas, espaçamento das plantas, entre outros indicadores que permitem uma avaliação mais precisa da safra.
A quebra de safra em Mato Grosso, que se repete em outros Estados, está tumultuando o mercado nacional e tem potencial de sustentar os preços globais da commodity.
As intempéries climáticas ameaçam reduzir os embarques do Brasil, segundo exportador global, e elevar importações do país, assim como está colaborando para alçar as cotações do milho no mercado doméstico a patamares recordes, o que tem apertado margens de produtores de carnes.
Pelos últimos dados do Ministério da Agricultura, a safra de Mato Grosso está estimada em 19,5 milhões de toneladas (-4 por cento ante 14/15), um número que ainda não leva em conta todas as perdas da seca.
RALLY APONTA QUEDA
Nas análises das produtividades preliminares obtidas pelo Rally, que somaram uma média abaixo de 90 sacas por hectare após amostragens de mais de 15 fazendas, ficou nítido que produzirá melhor em 2015/16 aquele produtor que conseguiu realizar o plantio em janeiro, dentro da janela em que as plantas conseguiram se beneficiar mais das precipitações, evitando atravessar o período crítico reprodutivo durante a seca de abril.
O número preliminar médio encontrado pela equipe do Rally, que depois será refinado pela Agroconsult numa estimativa da colheita brasileira, já está abaixo do total apontado para a região médio-norte no ano passado, quando os agricultores foram favorecidos por um alongamento da época das chuvas.
"Apenas as lavouras mais adiantadas conseguiram escapar (da seca) este ano. Isso ocasionou para essas plantações tetos produtivos superiores aos das outras", afirmou o engenheiro agrônomo Eder Antônio Magi, da Impar Consultoria, que realizou amostragens de produtividade pelo Rally na região de Santa Rita do Trivelato.
A equipe de Magi, a propósito, foi atingida nos campos por chuvas anunciadas lá em Cuiabá, uma situação rara nos últimos meses. Contudo, precipitações isoladas que foram o padrão predominante neste ano pouco podem fazer agora para melhorar a produtividade das lavouras, em fase final de maturação e colheita prevista em mais algumas semanas.
As chuvas neste momento no máximo poderiam ajudar na melhora do peso do grão, uma vez que o rendimento agrícola de maneira geral está praticamente definido, segundo o especialista.
As chuvas vistas pela equipe integrada por Magi no Rally também exemplificam muito da irregularidade climática em Mato Grosso na atual temporada, vista como consequência de um El Niño forte, seguida de uma ótima colheita no Estado em 2014/15.
"Vimos lavouras bem ruins perto de outras que produzirão 120 sacas", afirmou Magi, explicando que a aquelas que apontam para uma produtividade ruim sofreram estresse hídrico bem no momento do enchimento do grão.
A irregularidade de produtividades verificada na região de Nova Mutum deve se repetir em todo o Mato Grosso este ano, disse à Reuters o produtor Rodrigo Pozzobon, coordenador da Aprosoja em Sorriso, o maior município produtor do Brasil.
"O Mato Grosso vai ter lavouras boas, médias e ruins", comentou ele, numa das paradas do Rally da Safra.