Por Julien Pretot
CANNES, França (Reuters) - O filme "La Fille Inconnue", dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, premiados duas vezes com a Palma de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Cannes, parece uma metáfora da crise imigratória europeia, mas os belgas negam que seja um recado.
Apresentando seu 10º longa em Cannes nesta quarta-feira, os diretores contaram que ele fala sobre uma médica, a doutora Jenny Davin, que tenta identificar uma adolescente morta do lado de fora de seu consultório.
Inicialmente ela é motivada pela culpa, já que ignorou a campanha na noite do crime por ela ter tocado uma hora após o fim do expediente. À medida que investiga o caso, fica claro que a princípio ela é a única interessada em descobrir a verdade.
Indagados se o filme pode ser visto como um comentário sobre as portas fechadas aos imigrantes que arriscam a vida para chegar à Europa, os irmãos responderam que, uma vez exibidos, seus filmes não pertencem mais a eles.
"Uma vez que tenha sido visto, um filme pertence aos espectadores. Se eles quiserem ver algum exemplo neste, têm liberdade para fazê-los. Podem vê-lo tanto como uma estória individual moral quanto como um diagnóstico da sociedade", disse Luc Dardenne.
"Mas estamos contando a história de alguém que se sente responsável... e se recusa a dizer 'não vi nada'", acrescentou. "Não estamos tentando mandar nenhum recado".
Este sentimento de responsabilidade a leva a desvendar o mistério, ainda que ninguém mais pareça se importar, disse ele. "Ela não abriu a porta quando deveria".
Os irmãos Dardenne conquistaram o prêmio máximo de Cannes com "Rosetta" em 1999 e "A Criança" em 2005.
Só sete diretores – ou equipes de direção – foram agraciados com a Palma de Ouro em duas ocasiões, e os irmãos Dardenne concorrem a uma terceira estatueta na atual edição do festival, cujo vencedor será anunciado no domingo.