Washington, 22 set (EFE).- Os países emergentes que formam o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) demonstraram nesta quinta-feira "preocupação crescente" pela grave crise da dívida soberana na zona do euro, mas evitaram abordar a ideia de ajuda financeira imediata às nações ricas.
Os ministros de Finanças e os presidentes dos bancos centrais dos cinco países se reuniram nesta quinta-feira em Washington, na véspera das assembleias anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, para alertar sobre o impacto global que a crise europeia pode ter se não forem tomadas medidas decididas com rapidez.
Em comunicado publicado após a reunião, os países emergentes advertem que o problema da dívida nos países avançados e as dúvidas que cercam seus planos de ajuste fiscal de médio e longo prazo "estão criando um clima de incerteza para o crescimento mundial".
Por outro lado, "a excessiva liquidez" derivada das políticas agressivas adotadas por alguns bancos centrais para estabilizar seus mercados internos "estão chegando aos mercados emergentes" e provocando uma "excessiva volatilidade dos fluxos de capital e dos preços das matérias-primas".
O "problema imediato", segundo os emergentes, é "devolver o crescimento aos países desenvolvidos".
"É fundamental que as economias avançadas adotem políticas financeiras e macroeconômicas responsáveis, evitem criar excessiva liquidez em nível global e façam reformas estruturais que impulsionem o crescimento, criem empregos e reduzam os desequilíbrios", afirma o comunicado.
Os Brics lembraram os esforços que eles estão fazendo para sustentar o crescimento.
"A situação atual requer ações decididas. Nós estamos dando os passos necessários para garantir o crescimento econômico, manter a estabilidade financeira e conter a inflação", afirmaram em seu comunicado.
"Também estamos decididos a acelerar as reformas estruturais para manter um sólido crescimento econômico que faça avançar o desenvolvimento e reduzir a pobreza em nossos países, que beneficie o crescimento e reequilíbrio mundiais", acrescentaram.
Os Brics se declararam "abertos a considerar, se for necessário, a possibilidade de prestar apoio, através do FMI e de outras instituições financeiras internacionais, para enfrentar os desafios que abalam a estabilidade financeira global, dependendo das circunstâncias de cada país".
Sobre a pergunta se o grupo havia examinado a ideia de ajuda financeira concreta à zona do euro, mediante, por exemplo, a compra de bônus dos países submetidos às maiores pressões, os ministros responderam com evasivas.
O presidente rotativo do grupo, o titular de Finanças indiano, Pranab Mukherjee, se limitou a dizer que os Brics "farão sua contribuição ao Grupo dos Vinte (G20, que reúne os países ricos e os principais emergentes)" e contribuirão ali para "construir um consenso" em torno do tema.
Por sua vez, o ministro de Finanças russo, Alexey Kudrin, deixou claro que os Brics abordaram nesta quinta-feira o problema europeu "em termos de cooperação", mas "evitamos utilizar palavras como 'ajuda' e 'assistência'".
"Estamos discutindo o assunto em cooperação com os europeus e também entre nós", acrescentou.
Previamente, o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, pediu aos europeus que sejam "rápidos, ousados e cooperativos entre eles", para pôr fim à instabilidade financeira.
"Todos concordamos que a situação se agravou nos últimos meses", disse.
Se em 2008 o epicentro da crise financeira foi nos Estados Unidos, agora o coração fica na União Europeia, e é ali, argumentou Mantega, onde tem de ser tomadas decisões "sem demora".
Caso contrário, advertiu, existe um perigo real que a situação se espalhe e contagie as economias emergentes e menos avançadas, que já estão sofrendo os efeitos da instabilidade sobre a taxa de inflação e as expectativas de crescimento.
"A cada dia que passa, a solução será mais difícil e mais cara", alertou Mantega. EFE