Juan Palop.
Berlim, 29 jul (EFE).- O autor dos atentados de Oslo, Anders Behring Breivik, não é simplesmente um "louco", mas uma personalidade fanática, pontual e obsessiva que, induzido por um ódio alimentado sozinho durante anos, se considera um maquiavélico profeta da extrema-direita e anti-Islã.
"Tudo aponta que ele está louco", assegurou Geir Lippestad na última terça-feira em sua primeira entrevista coletiva como advogado de Breivik, um norueguês de 32 anos que tinha passado despercebido até que na sexta-feira passada assassinou 76 pessoas a sangue frio segundo um plano elaborado "durante anos".
No entanto, o jurista reconheceu que a personalidade de seu cliente é muito sinistra e complexa para resumi-la. "Não posso descrevê-lo. Ele não é como nenhum de nós" justificou Lippestad quando os jornalistas tentaram traçar a personalidade de Breivik.
Mas, perante a insistência da imprensa, retratou o autor dos atentados como uma pessoa "muito fria" e que "vive em 'uma bolha', o que gerou uma "visão da realidade muito rara" e "muito difícil de explicar".
Assim, Breivik se vê "como um guerreiro", um "cavalheiro templário", como repete em seu "manifesto", "2083: Uma declaração de independência europeia", o documento de 1,5 mil páginas com seus pensamentos que divulgou na internet horas antes dos atentados.
Nesta obra, Breivik pratica uma revisão histórica raivosamente islamófoba, expõe seu plano de "reconquista" do velho continente por parte dos "autênticos europeus", e analisa com um detalhe doentio a atualidade política.
A obstinação fanática é o sinal de vida para Breivi: à parte do monumental "manifesto" e do planejamento durante anos dos atentados, o norueguês optou pela abstinência sexual - porque "desvia a atenção" - e consumia esteroides anabolizantes de forma sistemática antes dos ataques, para gerar músculo e estimular sua agressividade.
Lippestad acrescentou que seu cliente considera que está em "estado de guerra" contra a invasão muçulmana que ele acredita que sofre Europa, e por extensão, contra os social-democratas, por "trair" a Noruega defendendo o "multiculturalismo" e "importando muçulmanos em massa".
Desta óptica é preciso examinar os ataques: primeiro explodiu um carro-bomba no distrito governamental - matando oito pessoas - porque o Partido Trabalhista está no Executivo; e depois atirou a sangue frio contra participantes de um acampamento da juventude social-democrata, e assassinou 68 pessoas, em sua maioria jovens e adolescentes.
"Odeia qualquer pessoa que não seja um extremista. Odeia qualquer um que seja democrata e que defenda os valores democráticos", ressaltou o advogado.
O agressor reconheceu perante a Polícia rapidamente seus crimes, e os tachou de "atrozes mas necessários" dentro de sua "cruzada", algo que "Ocidente não entende" agora, mas que "certamente que lhe agradecerá no futuro" e por último se declarou "responsável, mas inocente".
Na próxima semana, dois psiquiatras começarão a estudar o assassino norueguês, em primeiro lugar para estabelecer se pode ser declarado "penalmente responsável" e, depois para ver se só está louco ou se seu rosto impassível esconde algo muito mais complexo. EFE