Assembleia do FMI e do Banco Mundial termina com promessas não cumpridas

Publicado 07.10.2009, 11:03
Atualizado 07.10.2009, 11:35

Teresa Bouza.

Istambul (Turquia), 7 out (EFE).- A Assembleia Anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM) terminou hoje em Istambul (Turquia) com muitas promessas não cumpridas e com a mensagem de que é preciso manter a guarda, apesar dos sinais de recuperação na economia mundial depois da crise.

O encontro serviu para confirmar também o impulso dado pelos países emergentes, sobretudo os asiáticos, que se transformaram na nova locomotiva de uma economia global ainda afetada.

"Esta é a primeira vez na qual os países emergentes lideram a saída da crise", disse à Agência Efe Augusto de la Torre, economista-chefe do BM para a América Latina.

Mais explícito ainda foi Stephen Green, presidente do HSBC, que assegurou durante uma entrevista coletiva concedida na terça-feira, em Istambul, que "o centro de gravidade econômico mundial" está mudando do oeste para o leste.

Com esse novo equilíbrio de forças, os responsáveis dos dois organismos multilaterais reunidos na Turquia prometeram acelerar a reforma para dar mais voz em suas estruturas de poder aos países em desenvolvimento.

A realidade demonstra que as grandes promessas são difíceis de ser cumpridas, como lembrou o diretor-gerente do FMI, o francês Dominique Strauss-Khan, ao indicar que a cessão de 2,7% dos votos dos países ricos para os emergentes ainda não entrou em vigor, porque só foi ratificada por 36 dos 111 países necessários.

Tudo isso leva à previsão de que a transferência dos 5% adicionais de poder de voto que o FMI tem intenção de aprovar e os 3% no BM resultará em um "custo igualmente alto".

O ministro das Finanças equatoriano, Diego Borja, acredita que, após de todo o alvoroço, há medidas "extremamente mornas" e não uma reforma profunda defendida pelo mundo em desenvolvimento.

As reuniões serviram ainda para incidir na mensagem de que a economia mundial já vê a luz no final do túnel e crescerá 3,3% em 2010, após uma contração de 1,1% neste ano.

Mesmo assim, parece haver o consenso da necessidade de se manter os pacotes de estímulo até que a recuperação esteja garantida.

Entre as notáveis exceções está a China, que expressou durante o encontro sua preocupação com uma possível alta inflacionária, algo que não parece preocupar o resto das potências econômicas dispostas a prolongar os pacotes de estímulo monetário e fiscal.

A mensagem de que a recessão está superada não convenceu a todos e não faltou quem assinalasse que, com taxas de desemprego que superam os 10% em muitos países, não se pode dizer que a crise tenha acabado. O Prêmio Nobel de Economia de 2001, o americano Joseph Stiglitz, foi um dos que levantou o tema.

Já entre as concordâncias estão a de que o consumidor americano "jogou a toalha" e não poderá seguir sendo o motor econômico global, após ver seu poder aquisitivo reduzido pela crise.

Os titulares de Economia e das Finanças dos 186 países-membros do FMI e do BM utilizaram a reunião para vislumbrar novos potenciais focos de crescimento.

A maioria parece apostar por um aumento do consumo e da demanda doméstica nos países emergentes, sobretudo nos asiáticos, algo que se espera que ajude, no caso chinês, à apreciação do iuane.

Os parceiros comerciais da China o acusam de uma vantagem competitiva desleal ao manter artificialmente depreciado o valor de sua divisa.

Os juros cambiais foram outro dos focos do debate em Istambul e a conclusão parece ser a de que o dólar seguirá fraco, mas seu preço não desabará. Já o iuane não abandonará da noite para o dia sua vinculação à moeda americana.

O presidente do BM, Robert Zoellick, disse que o organismo necessita ampliar seu capital para manter o atual volume de empréstimos, uma iniciativa que recebeu uma tímida resposta.

Fora da reunião, a Polícia turca reprimiu hoje duramente, pelo segundo dia consecutivo, os manifestantes que protestavam contra a Assembleia Anual do FMI e do BM.

Os enfrentamentos causaram ontem a morte de uma pessoa, que sofreu um infarto após os enfrentamentos policiais. EFE

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