Jorge Bañales.
Washington, 16 jul (EFE).- Após décadas de luta contra a aids, o
ritmo de propagação da doença diminuiu e a ciência avança pouco a
pouco em direção a uma vacina, embora a falta de recursos seja um
problema crescente que ameaça os avanços.
As autoridades sanitárias de todo o mundo se preparam para a 18ª
Conferência Internacional sobre Aids, que será realizada entre os
dias 18 e 23 de julho em Viena (Áustria), onde serão discutidos,
entre outros temas, a sustentabilidade das campanhas sanitárias.
Como explicou à Agência Efe, Paulo Lyra, porta-voz da Organização
Pan Americana da Saúde para os temas da aids, alguns Governos
dependem dos recursos doados pelo fundo global para lutar contra a
pandemia.
Enquanto os países enfrentam a expansão da doença, a comunidade
científica segue trabalhando sem descanso na busca de cura. Na
semana passada, a revista "Science" divulgou novas descobertas que
poderiam levar a uma vacina contra o vírus de imunodeficiência
humana (HIV).
Uma equipe de pesquisadores dos Estados Unidos identificou três
anticorpos naturais que são capazes de neutralizar mais de 90% das
variedades principais do HIV.
Os pesquisadores de entidades públicas de saúde dos EUA afirmam
que é pouco o que se sabe sobre os anticorpos, que estão presentes
no sangue de muitos infectados com HIV.
Mas esta descoberta poderia ajudar na elaboração de vacinas
eficazes contra o vírus considerado o causador da síndrome de
imunodeficiência adquirida.
Outra novidade partiu do instituto nacional de pesquisa médica do
Reino Unido, onde os cientistas descobriram que um gene encontrado
nos macacos africanos pode prevenir a infecção com o equivalente do
HIV em símios.
O mesmo gene, nos humanos, não pode resistir ao vírus, mas
aparentemente bastaria uma só modificação no gene para que fosse
capaz de fazê-lo.
Em outra pesquisa, os cientistas da Universidade do Oregon e do
Instituto de Tecnologia da Califórnia descobriram que um regulador
genético - denominado Ctip2 -, crítico para muitas funções da vida,
desempenha um papel-chave na formação das células do sistema
imunológico, que poderia ser reforçado.
Apesar dos avanços científicos, as campanhas de prevenção e
tratamento nos países mais pobres estão ameaçadas pela falta de
recursos.
Segundo lembrou à Efe Paulo Lyra, muitos Governos não têm
capacidade para financiar com seus orçamentos a luta contra a aids,
por isso que dependem de ajuda externa.
"Portanto, a continuação das campanhas estará ameaçada quando se
termine o Fundo Global", uma iniciativa internacional impulsionada
pela ONU para combater a aids, a malária e a tuberculose.
Em 2006, todos os Estados-membros das Nações Unidas se
comprometeram em conseguir um acesso universal à prevenção e ao
tratamento destas infecções até o fim de 2010.
"Ao aproximar-se do prazo está claro que a comunidade global não
completou esse compromisso", sustenta um estudo publicado há poucos
dias na revista "Science".
"Em 2009, o Fundo das Nações Unidas para a Aids calculou que em
2010 seria necessário US$ 25 bilhões para a resposta a aids em
países sem receita ou meios, e o que está disponível agora são US$
11,3 bilhões", prossegue o estudo.
Lyra disse que na América Latina e no Caribe, onde há 2 milhões
de pessoas portadoras do HIV, o atendimento deste problema de saúde
consome até 30% dos orçamentos de vários países.
Assegurar os recursos no longo prazo se transformou em um dos
principais desafios para os países que lutam para frear a expansão
do vírus e por oferecer tratamentos com antirretrovirais para as
pessoas infectadas.
"No mundo todo, há mais de 33 milhões de pessoas que vivem com o
HIV e a cada ano há pelo menos 2,7 milhões de novas infecções",
indicou Rachel Jewkes, do Conselho de Pesquisa Médica, em Pretória
(África do Sul).
Há indícios, no entanto, que a velocidade de propagação das
infecções com o HIV e o desenvolvimento da síndrome de
imunodeficiência adquirida "está diminuindo em várias regiões do
mundo", apontou Lyra.
Os analistas consideram que ainda há muito por fazer para
alcançar tratamentos nos estágios iniciais do contágio, quando são
mais efetivos.
Conforme Jewkes, "menos de uma em cada oito pessoas infectadas
com HIV no mundo todo recebe tratamento antirretroviral".
Por isso, a ONU lançou há poucos dias uma inovadora iniciativa
chamada 2.0, que permitiria evitar 10 milhões de mortes e 1 milhão
de novas infecções daqui até 2025.
O 2.0 é um tratamento que engloba iniciativas para a prevenção do
HIV, novas práticas para sua detecção e inovadoras fórmulas para
criar medicamentos mais inócuos, embora nenhuma tenha sido aplicada
até agora. EFE