Pequim, 17 mar (EFE).- O Banco Mundial (BM) se mostrou hoje
otimista em relação ao futuro da economia da China, prevendo um
crescimento de 9,5% para o país em 2010, mas alertou a Pequim sobre
os perigos da bolha imobiliária e do endividamento dos Governos
locais e pediu a flexibilização da moeda chinesa, o iuane.
Em entrevista coletiva para apresentar suas previsões para a
China em 2010, o BM cifrou o crescimento da economia chinesa em 1,5
ponto percentual a mais que o objetivo de 8% fixado pelo Governo
chinês.
Isso significaria um crescimento trimestral médio de 8,8% da
economia chinesa, relativamente fácil de conseguir levando em conta
que na segunda metade de 2009 já foi de aproximadamente 10%,
destacou a entidade em seu relatório. Além disso, o documento
acrescenta que "o crescimento deve continuar robusto em 2011".
O Banco também ressaltou que não há previsões de um aumento
excessivo da inflação, que deve ser de 3,5% a 4%. Segundo a
instituição, o crescimento mudará "sua natureza" a respeito de 2009,
com uma queda dos investimentos estatais e uma recuperação contínua
das exportações.
De acordo com o economista Louis Kuijs, autor do relatório, a
mudança na estrutura do crescimento também significará uma maior
participação do setor imobiliário no Produto Interno Bruto (PIB),
algo que segundo ele já foi notado no final do ano passado.
Assim como os Estados Unidos, o Banco Mundial também pede à China
que flexibilize a taxa de câmbio do iuane em relação ao dólar.
Após uma gradual mas ininterrupta valorização entre 2005 e 2008
(cerca de 20% em relação ao dólar), a moeda chinesa está
praticamente estável desde o início da crise financeira, retornando
às tendências deflacionistas do período 2000-2005, adverte o BM.
"A política monetária tem um papel-chave em conter os riscos da
inflação", aponta Kuijs. Para ele, "mais flexibilidade na taxa de
câmbio contribuiria para isso".
Segundo o BM, os dois principais focos de risco para a economia
chinesa são a bolha imobiliária, com altas de até 30% no preço dos
imóveis nas grandes cidades chinesas, e o endividamento de muitos
Governos locais do país, que recorrem justamente a projetos
imobiliários para se financiarse).
Ainda assim, para a entidade, "as incertezas são menores que em
2009".
O caso do déficit local também foi abordado hoje em outra
entrevista coletiva em Pequim, na qual o economista Victor Shih
calculou em US$ 1,6 trilhão as dívidas dos Governos municipais,
valor equivalente a um terço do PIB chinês.
Shih alerta que os Governos locais chineses embarcaram em uma
"onda gigantesca" de financiamento de projetos de desenvolvimento
por meio de empréstimos bancários para promover investimentos e
cumprir com os planos de estímulo do Governo central.
O US$ 1,6 trilhão em créditos não estaria computado na relação
oficial entre dívida e PIB da China, que está em torno de 22%,
adverte o analista.
No entanto, o professor enfatizou que Pequim possui margem de
manobra para remediar a situação, por meio da firme restrição de
mais crédito bancário às entidades locais, algo que o Governo chinês
já começou a realizar em janeiro.
O PIB da China cresceu 8,7% em 2009, apesar do desastre que a
crise financeira global causou nas exportações nacionais (motor do
crescimento chinês durante décadas), graças a um plano de estímulo
estatal de US$ 500 bilhões para fomentar o consumo interno.
Em 2010, Pequim já anunciou que as medidas de estímulo serão
reduzidas para evitar o reaquecimento de certos setores, o que,
segundo o BM, terá como resultado um retorno do importante papel das
exportações na economia chinesa.
No entanto, a instituição avalia que já estão definidas as bases
para que mude o modelo econômico chinês e este, a médio prazo, se
volte mais para seu mercado interno e menos para o exterior.
"A China está fazendo progressos no reequilíbrio de sua economia,
mudando o papel do Estado e levando em conta a interação com o resto
do mundo", destacou o BM nas conclusões de seu relatório. EFE