César Muñoz Acebes.
Washington, 14 set (EFE).- O Instituto de Finanças Internacionais
(IIF, na sigla em inglês), a maior associação de bancos do mundo,
rejeitou hoje a iniciativa de alguns membros do Grupo dos Vinte
(G20, que reúne os países ricos e os principais emergentes) de impor
limites às bonificações de seus diretores.
O IIF, que representa mais de 370 entidades, divulgou hoje uma
carta dirigida ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na
qual fez um mea culpa sobre sua responsabilidade na atual crise.
"A indústria de serviços financeiros é muito consciente de que
pontos fracos e falhas em algumas de nossas práticas empresariais
contribuíram para uma crise grave e cara", segundo a carta.
De acordo com o texto, o IIF aceita uma mudança na lei que obriga
as entidades financeiras a aumentarem o capital que devem guardar em
cofre, ao invés de conceder empréstimos, para responder a uma
mudança nas condições do mercado.
Essa é uma das principais iniciativas que serão tratadas pelos
líderes de Estado do G20, em sua reunião na semana que vem, em
Pittsburgh, no estado americano da Pensilvânia, além das novas
normas sobre a remuneração dos diretores de bancos.
Sobre o tema, Charles Dallara, diretor-gerente do IIF, disse em
entrevista coletiva que o grupo se opõe a impor "limites rígidos aos
salários".
"Acho que não é factível nem desejável tentar abordar o tema da
compensação sob o prisma particular da moral de cada um",
acrescentou Dallara.
Em um discurso em Nova York, pouco depois da entrevista coletiva,
Obama fez referência aos membros do IIF.
"Há pessoas na indústria financeira que estão interpretando mal a
situação, (...) que não aprenderam a lição", disse Obama, em um
discurso para lembrar a quebra do banco de investimento Lehman
Brothers, um ano depois de seu anúncio.
"Não voltaremos aos dias de comportamentos temerários e excessos
descontrolados (...), nos quais muitos estavam motivados somente por
seu apetite pelo risco e bonificações infladas", afirmou Obama.
Por sua parte, o IIF negou em sua carta que tenha havido uma
volta às práticas do passado.
A instituição aceita que as remunerações dos diretores dos bancos
sejam calculadas de acordo com os lucros em longo prazo, e que as
empresas possam pedir sua devolução se o desempenho piorar, enquanto
se opõe às bonificações garantidas durante vários anos, segundo
disse à agência Efe Yusuke Horiguchi, economista-chefe do IIF.
Atualmente, a maioria das empresas premia os operadores
financeiros pelos lucros em curto prazo, o que fomenta os riscos
excessivos, que podem gerar altos resultados positivos
imediatamente, mas aumentam a vulnerabilidade da empresa se o
sentimento do mercado mudar.
Na cúpula do G20, o Conselho de Estabilidade Financeira, que
reúne bancos centrais de todo o mundo, apresentará uma proposta para
a reforma do sistema de remuneração.
A França é a principal defensora da imposição de um limite aos
bônus recebidos pelos banqueiros, mas a ideia foi recebida com
ressalvas por outros membros do G20, particularmente o Reino Unido e
os Estados Unidos.
Em sua carta, o IIF recomenda os Governos a não retirarem "de
forma prematura" as medidas de estímulo econômico adotadas para
impedir que a recessão se transformasse em depressão.
Dallara afirmou ainda que o sistema financeiro continua "frágil",
pois os títulos "tóxicos" que deram origem à crise continuam nos
porões dos bancos e essa quantidade poderia aumentar se o mercado
dos imóveis comerciais nos Estados Unidos piorar, como alguns temem.
Mesmo assim, o IIF pediu aos Governos que elaborem estratégias
para retirar as medidas de expansão fiscal e monetária, com o
objetivo de convencer os investidores de que há um plano de ação.
"Em certo momento, os mercados começarão a se preocupar se os
Governos não levarem o déficit e a dívida a sério", disse Dallara.
EFE