BCE mantém polêmico programa de compra de dívida pública

Publicado 04.08.2011, 14:45
Atualizado 04.08.2011, 16:15

Arantxa Iñiguez.

Frankfurt (Alemanha), 4 ago (EFE).- O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, anunciou nesta quinta-feira que a entidade monetária decidiu manter o polêmico programa de compra de dívida pública e considerou que é necessário elevar as taxas de juros.

Na entrevista coletiva concedida em Frankfurt após a reunião mensal do Conselho do BCE, na qual foi decidido pela manutenção das taxas de juros na zona do euro em 1,5%, Trichet anunciou também uma operação extraordinária de injeção de liquidez mediante empréstimos aos bancos comerciais da região a seis meses.

Trichet insinuou que enquanto ele falava com os jornalistas, o BCE teria comprado dívida pública de alguns países periféricos, em um golpe de efeito para frear as operações especulativas nos mercados de renda fixa da zona do euro contra a Espanha e a Itália.

"Não me surpreenderia que antes do final desta entrevista coletiva, víssemos algo no mercado", afirmou.

Segundo alguns operadores dos mercados, o BCE comprou nesta quinta-feira bônus soberanos de Portugal e Irlanda.

A decisão de adquirir títulos representa a primeira vez que o BCE aplica o programa de compra de dívida pública de países da zona do euro no mercado secundário desde o final de março, apesar das tensões que surgiram em julho.

Trichet explicou que o Conselho do BCE decidiu manter este programa de compra de dívida pública apesar de ter sido criticado pela linha mais ortodoxa dentro da entidade, que defende com fervor a garantia da estabilidade de preços e representa principalmente os alemães.

A entidade monetária europeia iniciou este programa em maio de 2010 para ajudar os países que atravessam dificuldades de refinanciamento e até agora adquiriu bônus no valor de cerca de 75 bilhões de euros.

O presidente do BCE também deu a entender que é necessário elevar as taxas de juros, mas segundo o economista-chefe do alemão Commerzbank, Jörg Krämer, a entidade se absterá de fazê-lo caso a crise de endividamento soberano se agrave.

"Também assumimos que o BCE comprará bônus públicos em grande escala se os ministros de Finanças não atuarem suficientemente rápido para ajudar a Espanha e a Itália", afirmou Krämer.

Durante a entrevista coletiva, o presidente do BCE considerou que a política monetária é ainda "flexível", e garantiu que o conselho de governo vai observar "muito de perto os riscos para a estabilidade de preços", palavras que em ocasiões anteriores já significaram uma elevação das taxas de juros a médio prazo, o que poderia acontecer em outubro.

Previamente, o Conselho do BCE decidiu por unanimidade manter em 1,5% sua taxa reitora, o índice pelo qual empresta dinheiro aos bancos comerciais em todas as operações de refinanciamento.

A Facilidade Europeia de Estabilização Financeira (Feef), que está dotada de 440 bilhões de euros e por isso seria insuficiente para um eventual resgate de países do tamanho da Espanha e da Itália, poderá comprar dívida no mercado primário e secundário uma vez que o conselho da União Europeia (UE) modifique o acordo marco, que deve ocorrer em outubro.

Trichet anunciou que a entidade vai emprestar aos bancos comerciais todos os recursos que precisarem durante seis meses em uma operação extraordinária, devido ao retorno de tensões em alguns mercados financeiros da zona do euro.

Além disso, emprestará às instituições toda a liquidez que necessitarem por um trimestre a mais, até 17 de janeiro de 2012, em suas principais operações de refinanciamento, os leilões semanais e em operações de refinanciamento especiais até o final do primeiro trimestre do próximo ano.

O presidente do BCE destacou que ocorreu uma desaceleração do ritmo de crescimento econômico dos países da zona do euro nos últimos meses, após ter sido registrado um forte crescimento no primeiro trimestre por fatores especiais. Além disso, afirmou que a incerteza sobre o crescimento econômico segue elevada. EFE

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