Brasília, 15 jul (EFE).- A pressão da indústria europeia pode ser
importante para destravar as negociações entre o Mercosul e a União
Europeia (UE) e para superar as diferenças no setor agrícola, disse
hoje à Agência Efe o secretário de Comércio Exterior do Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Welber Barral.
Apesar de as discussões entre UE e Mercosul para um amplo acordo
comercial terem sido retomadas este mês, após uma paralisação de
quase seis anos, Barral admitiu que ainda persistem dificuldades por
causa das diferenças entre os dois blocos no setor agrícola.
"Não há grandes mudanças em relação a seis anos atrás e o tema
ainda é a agricultura", disse Barral, em entrevista à Efe, na qual
afirmou que a "diferença" hoje está no setor industrial europeu,
afetado pela crise que começou na Grécia, que "vê que a
possibilidade de expandir seus negócios está na América Latina".
Segundo Barral, a oportunidade para um acordo do Mercosul com a
UE surgiu porque "a crise gera reações protecionistas (sobretudo na
área agrícola), mas também alguma pressão de setores, como o
industrial, que querem uma maior abertura de mercados".
O assunto foi tratado nesta quarta-feira em Brasília, durante a
IV Cúpula Brasil-UE, na qual foi realizado em paralelo um encontro
de empresários de ambas as partes.
"Os industriais (europeus) disseram que querem o acordo", mas,
mesmo assim, enfrentam a resistência de setores agrícolas, que temem
o impacto que pode representar a alta competitividade do Mersocul no
âmbito, disse Barral.
Além disso, o secretário minimizou as exigências da UE sobre os
impedimentos que a Argentina impôs a produtos do setor agrícola e
afirmou que, na realidade, "não houve nenhuma medida concreta",
apenas alguns problemas pontuais, que afetaram inclusive o Brasil, e
que já foram solucionados.
"Foi gerada uma discussão muito grande, mas nossa impressão é de
que alguns negociadores europeus usam isso como um pretexto para não
avançar nas negociações", declarou Barral.
Em sua opinião, se o setor industrial europeu realmente quiser o
acordo com o Mercosul, "tem que se mobilizar, porque quem faz mais
barulho agora são os setores protecionistas" vinculados à
agricultura da UE.
Barral ressaltou que muitos países da UE, como Espanha, Alemanha
e Reino Unido, "querem o acordo", mas encontram pressões de França,
Irlanda e outras nações que pretendem manter ou expandir o
"protecionismo" no setor agrícola.
"A peça da resistência é a França", afirmou Barral, que se disse
convencido de que se o setor agrícola francês se convencer das
possibilidades que serão abertas com a negociação com o Mercosul
"será tudo mais fácil".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou hoje sobre essa
posição contrária da França e traçou a meta de "abrandar o coração
dos franceses" durante o segundo semestre do ano, quando o Brasil
ocupará a Presidência de turno do Mercosul.
"Sei do peso que têm os agricultores franceses", mas "será
necessário convencê-los do que um acordo com o Mercosul pode
oferecer para todos", disse Lula, na cúpula.
Lula destacou sua forte relação pessoal com o presidente da
França, Nicolas Sarkozy, e assegurou que apelará a ela para
"convencer" os produtores agrícolas franceses que se opõem à
retomada das negociações entre a UE e o Mercosul. EFE