Alfonso Fernández.
Washington, 17 abril (EFE).- Brasil e Argentina lideraram este fim de semana a rejeição das economias emergentes às "receitas universais" do Fundo Monetário Internacional (FMI) ao defender políticas "autônomas" perante os desafios colocados pela chegada de grandes fluxos especulativos a seus países.
A reunião de primavera (hemisfério norte) do FMI e do Banco Mundial (BM) que terminou na noite do último sábado em Washington amplia a dissidência entre as economias avançadas e as emergentes, que voltaram a se chocar em suas apreciações sobre as maneiras de sair da crise econômica.
Um dos pontos quentes da reunião de BM e FMI foi a aplicação de controles de capital por parte de países como Brasil e Argentina para encarar a avalanche de fluxos de investimento atraídos pelas taxas de juros.
Pela primeira vez em suas sete décadas de história, o FMI reconheceu que estes controles de capital podem ser "úteis" em determinados contextos.
Mas o organismo defendeu seu uso de maneira "temporária", "complementar" a outras políticas tradicionais e com "supervisão internacional".
O próprio diretor-gerente, Dominique Strauss-Kahn, encenou esta mudança de discurso ao afirmar durante seu discurso de abertura da reunião de primavera do FMI e do BM em Washington que estes controles de capital já não são considerados ferramentas "perversas".
Apesar do novo tom, países como Brasil e Argentina, que o FMI incluiu em seu relatório "Perspectivas Econômicas Globais" em sua lista de economias ameaçadas pelo "superaquecimento", repercutiram rapidamente as recomendações do organismo internacional exigindo "autonomia".
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, qualificou como "legítimas" as medidas de "defesa própria" adotadas pelos países receptores de fluxos, entre as quais incluiu os controles de capital.
Citou Brasil e Colômbia como exemplos de países que "já estão suportando mais do que lhes corresponde no chamado processo de reequilíbrio global".
Em seu discurso perante o Comitê Financeiro e Monetário (IMFC), principal órgão executivo do FMI, Mantega culpou "as políticas monetárias ultraexpansivas" das economias avançadas de serem "o principal gatilho dos males econômicos de hoje".
Disse, além disso, que o Brasil "continuará fazendo o que considerar que é necessário e adequado a suas circunstâncias para enfrentar os desafios que surgem de grandes e voláteis fluxos de capital".
O ministro da Economia da Argentina, Amado Boudou, replicou as recomendações do diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental, Nicolás Eyzaguirre, de que a Argentina deveria "diminuir" seu ritmo de crescimento para torná-lo "sustentável".
"Ao contrário, o que devemos fazer é acelerar mais o ritmo de crescimento, disse Boudou em entrevista coletiva, reivindicando seu próprio caminho frente às "receitas universais" do FMI.
Boudou não perdeu a oportunidade de lembrar que o FMI foi "responsável" por algumas "das políticas mais tristes para a Argentina".
Embora tenha avaliado a mudança de retórica do organismo multilateral, a avaliou como "um reconhecimento tardio".
O G24, grupo de países emergentes comandado pelo Brasil, México, Índia e África do Sul, também rejeitou a tutela do FMI.
Em comunicado conjunto, o grupo afirmou que os países que "enfrentam fluxos de capital abundantes e voláteis devem ter flexibilidade e discrição para adotar as políticas que considerem adequadas".
Os países emergentes continuam respeitando e avaliando o papel do FMI e do BM como instituições internacionais, mas a recente crise financeira que afetou principalmente as economias avançadas fortaleceu o seu discurso de uma maior autonomia em suas políticas econômicas.
Os números dão razão a estes países no que se refere ao ritmo da recuperação econômica mundial de duas velocidades, com as economias emergentes, lideradas por China e Índia, como locomotivas globais.
De acordo com os dados do relatório do FMI, as economias emergentes crescerão a um ritmo de 6,5% em 2011 e 2012, enquanto as economias avançadas 2,4% e 2,6%, respectivamente. EFE