Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Central anunciou nesta quarta-feira mudanças em sua forma de atuar no mercado de câmbio, com vias a trocar posição cambial em contratos de swap tradicional por dólares à vista, formalizando novo modelo de intervenção cambial para aprimoramento do uso dos instrumentos disponíveis.
Será a primeira vez que o BC ofertará dólares das reservas sem compromisso de recompra desde fevereiro de 2009, conforme assessoria do BC. O BC não disponibiliza swaps reversos desde novembro de 2016.
O BC informou que, de 21 a 29 de agosto, fará ofertas simultâneas de 550 milhões de dólares à vista e de igual montante em contratos de swap cambial reverso.
A atuação simultânea visa trocar, por dólar à vista, um total de 3,8445 bilhões de dólares em swaps cambiais tradicionais que expiram em outubro e que ainda não foram rolados pelo BC.
O volume eventualmente ofertado em dólar à vista e não absorvido pelo mercado será novamente disponibilizado aos agentes financeiros via leilões de swaps cambiais tradicionais "para o complemento da rolagem", conforme informou o Banco Central.
Segundo o BC, essas operações não afetarão a posição cambial líquida da autoridade monetária.
"A troca de instrumentos ocorrerá conforme a demanda dos agentes pelos diferentes instrumentos, por meio de leilões competitivos", disse o BC em nota em seu site.
SEM MUDANÇA NA POLÍTICA CAMBIAL
O BC enfatizou que a atuação "não altera" sua política cambial, "pautada no câmbio flutuante", sem prejuízo da atuação da autarquia em busca da manutenção do regular funcionamento do mercado.
"Trata-se de aperfeiçoamento no uso dos instrumentos à sua disposição para atuação no mercado de câmbio, como parte da Agenda BC#, tendo em conta as condições presentes neste momento no mercado", completou o BC.
A demanda por "hedge" cambial comumente esteve concentrada no mercado de derivativos --o de maior liquidez no Brasil. Isso justificava a atuação do BC via swaps.
Mas, segundo a autoridade monetária, a demanda por proteção cambial via swaps cambiais diminuiu. Na contramão, houve aumento na busca por liquidez no mercado à vista. Somando-se a esses fatores "a conjuntura econômica atual", o BC decidiu alterar o formato de intervenção cambial, privilegiando o mercado spot.
UMA DÉCADA DEPOIS
A última vez que a autoridade monetária ofereceu dólares à vista sem compromisso de recompra, em fevereiro de 2009, o câmbio vivia ainda os solavancos causados pela crise financeira deflagrada em setembro do ano anterior que causou escasseamento de liquidez nos mercados globais.
No caso dos contratos de swap cambial reverso, a última vez que o BC os ofertou foi em novembro de 2016, quando a autarquia passou a fazer leilões de rolagem de swaps tradicionais a fim de conter a volatilidade cambial derivada da eleição de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos.
Os swaps cambiais reversos "anulam" a posição do mercado em contratos de swap cambial tradicional.
Enquanto no swap tradicional o BC paga ao mercado a variação da taxa de câmbio mais uma taxa de juros em dólar (cupom cambial) --na prática, provendo dólares ao mercado--, no swap reverso é a autoridade monetária que recebe a oscilação da moeda norte-americana, pagando ao mercado a variação do juro em reais.
O estoque atual de swaps cambiais tradicionais do BC no mercado totaliza 68,863 bilhões de dólares. As reservas internacionais somam 388,418 bilhões de dólares (pelo conceito liquidez internacional).
A decisão do BC de migrar posição cambial em derivativos para o mercado à vista já vinha sendo ventilada nos últimos meses, inclusive por meio do aumento das ofertas de linhas de dólares com compromisso de recompra (que também afetam a liquidez no mercado spot).
Em abril, o diretor de política monetária do Banco Central, Bruno Serra Fernandes, já havia destacado leilões de dólar no mercado spot na lista de intrumentos de atuação cambial --junto com swaps e linhas com recompras--, ressalvando que a atuação no spot vinha sendo pouco usados devido ao desenvolvimento do mercado brasileiro de câmbio.
"De qualquer forma, nosso colchão de reservas e as características dos instrumentos que temos disponíveis, em especial a oferta de linhas, nos dão bastante espaço para atuar neste mercado, de forma a atenuar os efeitos da maior escassez de liquidez em dólares no mercado local", disse ele na ocasião.
Nesta semana, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que a posição cambial do Brasil é "muito sólida" e que o país está preparado para enfrentar crises.
A mudança na estratégia de atuação do BC foi anunciada após o fechamento dos mercados. O dólar encerrou esta quarta-feira acima de 4 reais pela primeira vez desde maio, puxado por uma onda de aversão a risco no exterior, por temores de recessão global.