Alfonso Fernández.
Washington, 27 jun (EFE).- Os poucos apoios conquistados pelo mexicano Agustín Carstens, autodenominado candidato dos países emergentes para dirigir o Fundo Monetário Internacional (FMI), revelaram que o "mundo emergente" é mais uma figura retórica do que uma realidade.
Por outro lado, a candidata da "tradição" e favorita ao cargo, a francesa Christine Lagarde, não só conta com o apoio da Europa, como conseguiu rapidamente o respaldo do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que reúne dezenas de países africanos pertencentes ao FMI, e o de países como o Egito e Indonésia, entre outros.
A disputa entre Christine, ministra das Finanças da França, e Carstens, governador do Banco Central do México, exemplifica uma batalha desigual que ilustra a dificuldade ou a negligência das economias emergentes de apresentar uma frente comum e consolidar seu crescente papel econômico.
O FMI anunciou que na próxima terça-feira, dia 28, os integrantes do Conselho Executivo se reunirão para falar sobre as qualificações dos dois candidatos ao cargo com o objetivo de completar o processo de seleção até 30 de junho.
"A falta de união entre os mercados emergentes é provavelmente o fator mais surpreendente e significativo desta campanha" para escolher um novo líder do FMI, disse no início de junho Fred Bergsten, diretor do Instituto Peterson de Washington.
No entanto, o processo de seleção para substituir Dominique Strauss-Kahn, acusado de tentar estuprar uma camareira de um hotel de Nova York, teve início com um incomum comunicado conjunto por parte dos cinco membros dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Os Brics qualificaram como "obsoleta" a tradição segundo a qual o diretor-gerente do FMI deve ser um europeu e afirmaram que a escolha com base na nacionalidade "debilita a legitimidade do FMI".
Parecia que o mundo emergente estava decidido a desafiar o pacto vigente desde a criação do FMI e sua instituição irmã, o Banco Mundial, em 1946, que repartia a direção de ambos os organismos multilaterais para um europeu e um americano, respectivamente.
Junto com o nome de Carstens, surgiram outros, como o ministro do Planejamento da África do Sul, Trevor Manuel; o do governador do Banco Central do Cazaquistão, Grigori Marchenko; e o do ex-diretor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o turco Kermal Dervis.
Pouco a pouco, no entanto, todos eles foram desistindo de se candidatar, ao ficar evidente que não existia um compromisso dos emergentes de apoiar uma aposta conjunta.
"Os mercados emergentes só têm em comum por enquanto altos níveis de crescimento, são países com estruturas econômicas e interesses nacionais muito diferentes", afirmou à Agência Efe o venezuelano Moisés Naím, pesquisador do Carnegie Endowment for International Peace em Washington.
Naím, que foi diretor-executivo do Banco Mundial, reconheceu que "muitos destes países aumentaram seu peso político individualmente, especialmente China, Índia e Brasil".
No entanto, acrescentou que "este aumento de poder individual não se traduziu em um poder coletivo".
Nem sequer no âmbito latino-americano Carstens conseguiu o apoio unânime, já que as grandes economias como Brasil e Argentina evitaram se comprometer.
"Na América Latina, mais uma vez, vimos que o discurso de unidade continental não se traduz em ações", disse Naím.
Por sua vez, Mark Weisbrot, codiretor do centro de estudos Center for Economic and Policy Research, minimizou a importância da candidatura de Carstens, já que "realmente não representa uma grande mudança".
"A verdadeira mudança wstá no fato de o FMI ser cada vez menos relevante, os países emergentes cada vez prestam menos atenção a seus ditames e já não necessitam de seu apoio", assegurou Weisbrot à Efe.
Neste sentido, acrescentou, a questão da representação dos países emergentes no FMI é um "problema estrutural", já que a modificação no sistema de cotas realizada durante a direção de Strauss-Kahn para aumentar seu peso foi "diminuta".
Weisbrot afirmou ainda que os países emergentes são conscientes de que a simples mudança de diretor-gerente "não significa nada", o que explicaria a falta de entusiasmo por Carstens de parte de um "bloco emergente". EFE