Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central adota em seu cenário de referência a projeção de mercado para os juros do boletim Focus que aponta para uma redução inicial na taxa Selic em junho de 2023, e, usando esse corte, a autoridade monetária atinge seus objetivos para a inflação, disse nesta quinta-feira o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto.
"Para a estratégia de atingir a inflação ao redor da meta no horizonte relevante, a gente usa como hipótese o Focus, que tem o primeiro corte em junho", disse o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen.
"Usando esse corte em junho (do Focus), a gente mostra que a gente atinge os objetivos", acrescentou Campos Neto.
Em entrevista à imprensa após apresentação do Relatório Trimestral de Inflação, Campos Neto ponderou que o BC não comenta abertamente como o mercado vê a curva de juros --que tem refletido algumas apostas de corte da Selic já no primeiro semestre do próximo ano--, mas frisou que a autoridade monetária tem afirmado que é muito cedo para se pensar em redução de juros.
Segundo ele, não é possível quantificar o compromisso expresso pelo Copom de manter a Selic no atual patamar de 13,75% ao ano por período "suficientemente prolongado", e que esse prazo dependerá de avaliação de diversos fatores e riscos.
DISSENSO
Ao comentar a divergência nos votos da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste mês, Campos Neto disse que o principal debate era se uma alta residual de 0,25 ponto percentual na taxa básica fortaleceria a mensagem da autoridade monetária.
A conclusão foi que o ajuste final que não faria tanta diferença, diante do ciclo já implementado até agora, disse. Ele afirmou que a decisão foi por "parar e observar", e que não há um fator específico que faria o BC retomar elevações na Selic. Campos Neto frisou que o dissenso expresso pelo BC na ata da reunião não representa por si só uma mensagem, mas apenas uma descrição do que de fato aconteceu no colegiado.
O presidente da autarquia também citou diferenças entre as projeções do BC e do mercado para a atividade econômica. Segundo ele, essas divergências se concentram nas avaliações sobre a persistência de choques industriais, uma visão do BC de que a ociosidade da economia não está tão pequena, além de visões sobre inércia da inflação e efeitos da política monetária.
Ele disse não ver uma perda de potência da política monetária, acrescentando que parte do trabalho do aperto monetário feito até agora ainda está sendo feito.
Campos Neto afirmou ainda que bancos já começam a ver uma desaceleração do crescimento do crédito à frente, diante da alta nos juros. Segundo ele, a inadimplência está subindo, mas o BC não vê uma explosão nesse índice.
Na apresentação, o presidente do BC também disse que o real tem tido picos de volatilidade, mas, em geral, tem apresentado performance melhor do que a média de seus pares.