Antonio Broto.
Pequim, 19 ago (EFE).- Os líderes chineses demonstraram nesta sexta-feira ao vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sua confiança em que os Estados Unidos sairão do buraco financeiro atual, e em contrapartida pediram maior abertura da primeira economia mundial à da China, especialmente em alta tecnologia.
O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, reuniu-se com Biden em Zhongnanhai (sede do Conselho de Estado), onde deu mostras de apoio que a Casa Branca procura com esta visita afirmando que a China "confia plenamente na capacidade americana de recuperação e superação das dificuldades e que vai retomar o caminho normal do desenvolvimento".
"É importante a mensagem dada à opinião pública chinesa de que os EUA cumprirão sua palavra e suas obrigações a respeito de sua dívida estatal", assinalou Wen, acrescentando que isso "dará um impulso à confiança dos investidores na economia americana".
Biden ressaltou ainda a Wen que os Estados Unidos "vão cuidar de sua dívida pública, e não simplesmente porque a China possui 8% desta (em bônus adquiridos), mas porque 85% são de propriedade americana".
"Apreciamos o investimento chinês na dívida americana, e quero deixar claro que não têm com o que se preocupar", afirmou.
Antes, o vice-presidente Xi Jinping falou em termos similares a Wen na presença do vice-presidente americano, destacando em uma reunião com empresários dos dois países que a economia dos Estados Unidos "é muito 'elástica' e tem uma forte capacidade de autorreparação".
As demonstrações de apoio da China são importantes em um momento em que a primeira economia mundial atravessa uma crise de confiança, devido à degradação de sua dívida pela agência de medição de risco Standard & Poor's e as negociações fechadas nos últimos instantes para elevar o teto do endividamento.
China é o maior credor dos EUA, com US$ 1,16 trilhão em bônus americanos, o que equivale a um terço da enorme reserva de divisas do país asiático, a maior do mundo.
Mas Xi, quem deve se transformar no máximo governante da China em 2013, foi além das palavras amáveis e pediu aos Estados Unidos ações para reduzir as restrições às exportações de alta tecnologia americana ao gigante asiático.
"Esperamos que os Estados Unidos acabem com as interferências e o protecionismo ao comércio e ao investimento, e tomem medidas pontuais e concretas nos setores que preocupam especialmente à parte chinesa", assinalou.
Particularmente, prosseguiu, Pequim quer "um relaxamento da exportação de produtos de alta tecnologia à China, assim como entorno para que as empresas chinesas invistam nos EUA".
A restrição de tecnologia americana à China - por motivos de segurança estratégica, segundo Washington - causa há tempo dores de cabeça a Pequim, interessada na transferência de P&D (pesquisa e desenvolvimento) para melhorar o valor agregado de sua indústria, tradicionalmente baseada em produtos "baratos".
Xi garantiu também que a China intensificará a proteção da propriedade intelectual que tanto preocupa Washington, e disse que a segunda economia mundial está no bom caminho e não vai experimentar a "aterrissagem brusca" que alguns economistas preveem no longo prazo.
Biden também encontra nesta sexta-feira com o presidente da China, Hu Jintao, embora este encontro tenha mais contornos diplomáticos do que econômicos e nele os líderes destacaram o "bom momento" dos laços entre Pequim e Washington.
A visita de Biden está sendo acompanhada nos dois lados do Pacífico e gerou algumas lembranças, como o "banquete" do vice-presidente americano na quinta-feira em uma restaurante popular de um bairro antigo de Pequim, onde ele e mais quatro pessoas de sua comitiva (entre eles sua neta) gastaram entre todos só 79 iuanes (o equivalente a US$ 10) em macarrão, bolo e pepino.
O gesto, que gerou milhares de comentários nas redes sociais chinesas, foi interpretado em muitos círculos como uma demonstração de "austeridade" que Washington quer mostrar para Pequim, apesar de muitos internautas chineses dizerem que tudo não passa de mais uma jogada ensaiada da Administração americana. EFE