Buenos Aires, 21 mar (EFE).- A Confederação Nacional de Indústrias do Brasil (CNI) advertiu nesta quarta-feira em Buenos Aires que as exportações à Argentina caíram em 22% nos dois primeiros meses do ano, embora o número não tenha sido confirmado pelo governo argentino.
Depois de um encontro com industriais argentinos, o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, considerou que o novo sistema de fiscalização de importações adotado pelo país vizinho pode afetar o comércio bilateral.
"Desde janeiro até agora, as exportações do Brasil caíram em 22%. Estamos fazendo uma análise para saber quanto dessa queda é culpa da medida da Afip (Fisco argentino)", assinalou Andrade à imprensa.
Já o presidente da União Industrial Argentina (UIA), José Ignacio de Mendiguren, considerou que a Argentina precisa de um "maior fluxo de intercâmbio comercial equilibrado com o Brasil" e admitiu que "o nível de importações complica o nível de atividade econômica".
Desde fevereiro, o Fisco argentino obriga os importadores a avisar sobre suas compras antes de efetuá-las, um sistema considerado protecionista por empresários locais e estrangeiros, já que as operações de importação devem ser validadas pelas autoridades argentinas.
O novo sistema de fiscalização, que está em sintonia com uma política de substituição de importações, também foi motivo de atritos com setores empresariais do Uruguai e do Paraguai, que junto ao Brasil, são parceiros da Argentina no Mercosul.
"Não nos consta esta queda de 22% de nossas importações do Brasil", afirmou o ministro de Economia da Argentina, Hernán Lorenzino, em declarações à agência estatal "Télam".
"O que nos consta, segundo os últimos números oficiais correspondentes ao mês de janeiro, é que nossas vendas ao Brasil caíram 24,8% e que nossas importações aumentaram 10% em relação ao mesmo mês de 2011", acrescentou o ministro argentino.
Em vez de "fazer lobby na imprensa", os industriais "deveriam deixar os coquetéis de lado e começar a trabalhar para ver uma forma de alimentar o comércio entre os dois países", opinou Lorenzino. "Argentina e Brasil e o resto dos países do Mercosul são aliados, e não inimigos".
Na terça-feira, o ministro das Relações Exteriores argentino, Héctor Timerman, levantou estatísticas que apontam a Argentina como o país que registrou o maior crescimento das importações dentro do G20, com uma alta de 39% em 2011.
A Câmara Argentina de Importadores, no entanto, afirma que há cerca de 100 mil solicitações de importação que permanecem freadas pela Secretaria de Comércio, apesar do sinal verde da Alfândega local.
Segundo um relatório da empresa de consultoria Abeceb, as compras argentinas de produtos brasileiros aumentaram em janeiro 2,7% em relação ao mesmo período de 2011, enquanto, em fevereiro, subiram 5,1%, o que reflete "uma desaceleração no crescimento mensal das importações do Brasil".
Por outro lado, o estudo indica que as vendas argentinas ao Brasil tiveram alta de 8,9% em janeiro, enquanto, em fevereiro, caíram 24,8%.
Na reunião desta quarta-feira, os industriais argentinos e brasileiros também coordenaram a agenda de trabalho do Fórum de Empresários Argentina-Brasil, que realizará um encontro em abril em São Paulo, indicou Mendiguren.
"Concordamos que a região está tendo uma grande oportunidade em um mundo em crise e, através desta aproximação, queremos que os setores privados levantem propostas concretas aos governos de ambos os países", explicou o chefe da UIA. EFE