Bruxelas, 6 mai (EFE).- A Comissão Europeia (CE) reconhece que um
acordo de associação entre a União Europeia e o Mercosul (Argentina,
Brasil, Paraguai e Uruguai) poderia trazer "grandes perdas" para a
agricultura comunitária, segundo um documento interno ao que teve
acesso a Agência Efe.
No texto extra-oficial, estão os cálculos dos serviços agrícolas
da CE sobre o impacto de um eventual acordo nos setores como na
criação de gado, suínos e aves, e menciona vários países afetados.
Conforme outras fontes europeias, existem relatórios indicando
que cinco autonomias espanholas seriam prejudicadas: a Cantábria e
Astúrias pelas importações de bovino, e Múrcia, Aragão e Navarra
pelas concessões ao suíno do Mercosul.
As negociações entre a UE e o Mercosul estão paradas desde 2004,
sobretudo pelas divergências na agricultura, e a CE propôs
reativá-las.
Espanha, como Presidência espanhola de turno da União, pretende
que na cúpula da UE-América Latina e Caribe, que será realizada em
Madri nos dias 17 e 18, se impulsione um compromisso para concluir
um tratado em um futuro próximo com o bloco latino-americano.
Os países do Mercosul figuram entre os "produtores agrícolas mais
competitivos do mundo" e qualquer abertura de mercado aos seus
envios "agravaria o desequilíbrio" que já há com as exportações da
UE nesse âmbito, conforme dados dos serviços agrícolas da CE.
Pelos cálculos, as perdas para a agricultura e a pecuária da UE
ficariam entre 3 bilhões de euros e 13,5 bilhões de euros.
"A competitividade agrícola do Mercosul é especialmente marcada
nos setores mais sensíveis para a UE: carne bovina, suínos e aves,
etanol e açúcar", segundo o documento.
"Isto se explica pelas diferenças nos custos de produção,
mão-de-obra, as condições meteorológicas e as exigências para os
produtores - que não impomos a nossos sócios", segundo a mesma
fonte.
Brasil é o primeiro fornecedor de carne de bovina e de ave à UE,
Argentina e Uruguai também são abastecedores importantes, mas o
Mercosul não vende agora à UE carne suína.
Nas discussões com Mercosul, o bloco reivindica à UE um melhor
acesso para seus bens agrícolas, enquanto Bruxelas pede uma maior
abertura de mercado para os produtos industriais e os serviços
europeus.
O texto lembra que em anteriores negociações, Mercosul já tinha
grandes reivindicações para aumentar sua cota de importação de
bovino e de aves à UE, por isso que espera-se que se restabeleçam as
conversas o bloco peça mais.
"As perdas são muito importantes e implicariam no fechamento de
explorações agrícolas europeias", embora seu impacto seja acentuado
em algumas regiões.
O texto menciona oito países: Irlanda, Luxemburgo, Reino Unido,
Bélgica, Áustria, Eslovênia, França e Suécia, no caso de carne
bovina; nas aves estão Hungria, Chipre e Polônia. EFE