Bruxelas, 22 abr (EFE).- A tensão política e linguística na
Bélgica entre flamengos e francófonos provocou hoje a queda
inesperada do Governo presidido pelo democrata-cristão flamengo Yves
Leterme, em um momento ainda abalado pela crise econômica e poucos
meses antes de o país assumir a Presidência da União Europeia (UE).
A responsabilidade deste novo caos foi completamente assumida
pelo Partido dos Liberais e Democratas Flamengos (VLD), que exigiu
encontrar uma solução imediata à disputa entre a maioria flamenga e
a minoria francófona, que vive na periferia de Bruxelas e há décadas
contesta a política central do Governo belga.
A decisão de se retirar do Governo federal, tomada esta manhã por
surpresa pela jovem direção do VLD, desencadeou a imediata queda do
segundo gabinete de Leterme e deixou mais confusa ainda a vida
política no país.
Apenas cinco meses após seu retorno como primeiro-ministro,
Leterme esteve hoje no Palácio de Laeken para apresentar sua
renúncia ao Rei Alberto II, a quinta desde que venceu as últimas
eleições em junho de 2007, mas não todas como chefe de Governo.
O Rei decidiu manter "em suspenso" sua resposta, segundo um
comunicado de Palacio. Ele ressalta o momento "inoportuno" desta
crise política, já que pode significar "um grave prejuízo para o
bem-estar econômico e social dos cidadãos e para o papel da Bélgica
no plano europeu".
A Bélgica mal se recuperou da grave crise econômica de 2008, que
está provocando o fechamento de inúmeras empresas como a fábrica da
Opel (General Motors) em Antuérpia, e prepara-se para receber da
Espanha dentro de dois meses a Presidência rotativa semestral da
União Europeia.
A eurodeputada ecologista belga Isabelle Durant assegurou que
esta crise "mina gravemente a imagem da Bélgica na União", já que o
país era considerado até agora "uma máquina de fazer compromissos".
Os dirigentes de todos os partidos da maioria -
Democratas-Cristão e Flamengo (CD&V), Socialista (PS), Reformador
(MR) e Humanista (Cdh) - criticaram a manobra do VLD. Para eles, a
atitude é motivada por interesses exclusivamente eleitorais.
Abandonando a tempo o Governo federal, quando ainda não se
encontra uma solução para o conflito lingüístico de
Bruxelas-Halle-Vilvoorde (BHV), os liberais, cuja prioridade nunca
foram as questões regionais, estariam pensando em ganhar reputação
entre o eleitorado flamengo nacionalista.
Empresários, sindicatos e representantes do mundo da cultura
apelaram pela responsabilidade de todos os dirigentes políticos para
evitar que a Bélgica siga rumo ao caos político.
Quando a renúncia ainda não era um fato, o ex-primeiro-ministro
democrata-cristão Mark Eyskens havia advertido que, com uma dívida
pública que já beira os 100% do Produto Interno Bruto (PIB), a
Bélgica pode se tornar a segunda vítima dos mercados financeiros,
atrás da Grécia, caso aumente a desconfiança sobre seu futuro.
Os flamengos exigem há anos que as comunidades de Halle e
Vilvoorde, situadas na região dos Flandres mas onde vive uma maioria
de francófonos, sejam separadas de Bruxelas com efeitos eleitorais e
judiciais. A capital é a única região do país que conta com um
estatuto bilíngue.
A divisão poria fim à disputa lingüística do país, mas tiraria
milhares de francófonos alguns direitos básicos, como o poder de
votar por partidos francófonas e serem julgados na língua materna.
EFE