Abidjan/Paris, 12 abr (EFE).- Em grave crise política desde o impasse nas eleições presidenciais de novembro do ano passado, a Costa do Marfim tenta voltar à normalidade após a queda do ex-líder Laurent Gbagbo e o apelo à reconciliação feito pelo governante eleito, Alassane Ouattara.
As tropas de Ouattara marcaram presença em vários distritos de Abidjan para garantir a segurança dos moradores da capital econômica marfinense, que amanheceu pela primeira vez desde 2000 sem Gbagbo no poder.
À espera de retornar a seus postos na polícia e na gendarmaria, as forças que apoiam o presidente eleito tentaram evitar a repetição de roubos e saques ocorridos nas últimas semanas em uma cidade que parece mais calma após a queda de Gbagbo.
Em comunicado transmitido pela televisão local ontem à noite, o comandante-geral da Gendarmaria Nacional, Edward Ksarat, e o diretor da Polícia Nacional, Bredou M'Bia, fizeram um apelo a seus agentes para que retomassem seus serviços e acelerassem assim a volta à normalidade.
Moradores de Cocody, bairro onde está localizada a residência presidencial na qual Gbagbo ficou entrincheirado por vários dias, disseram à Agência Efe que a situação em Abidjan estava aparentemente tranquila.
Enquanto isso, a comunidade internacional começa a mostrar seu apoio a Ouattara em forma de ajuda à reconstrução de um país que nos últimos quatro meses viveu um confronto entre as facções de dois presidentes autoproclamados.
Paris prometeu uma ajuda de 400 milhões de euros para financiar as necessidades mais urgentes e contribuir para a reativação de sua economia, começando pelo retorno à normalidade dos serviços públicos.
Além disso, a França assegurou que pedirá que a União Europeia suspenda todas as sanções impostas à Costa do Marfim durante os últimos meses para forçar a saída de Gbagbo. A Comissão Europeia, por sua vez, anunciou uma ajuda de 180 milhões de euros.
Junto com este auxílio financeiro, Ouattara recebeu pedidos em prol de uma reconciliação em seu país, um dos quais foi feito pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Em uma conversa por telefone com o presidente eleito, pediu que ele evite represálias contra os seguidores do ex-líder.
Já os investigadores do Escritório da alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos que trabalham no país africano contabilizaram 536 corpos de pessoas assassinadas nos massacres cometidos no oeste da Costa do Marfim desde o fim de março, em particular nas cidades de Duékoué, Guiglo, Bangolo e Buutuo.
Como a maioria das pessoas assassinadas fazia parte da etnia gueré, que apoiava Gbabgo, estima-se que elas tenham sido mortas por partidários de Ouattara.
Elisabeth Byrs, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação Humanitária (OCHA) disse que "qualquer pessoa que tenha cometido crimes, não importa de qual lado esteja, deve ser julgada respeitando os padrões internacionais".
No que diz respeito à situação humanitária, todos os porta-vozes das agências da ONU insistiram hoje no fato de que a saída de Gbagbo do poder não é suficiente para resolver a grave crise pela qual atravessa o país.
"O que temos que fazer agora que a situação de segurança melhorou é reforçar a resposta no país. Acelerar nossa ação. Enviamos oito especialistas em coordenação humanitária para que estabeleçam duas equipes em duas regiões do país e determinem as tarefas prioritárias", afirmou a porta-voz.
Enquanto isso, na França, continua a polêmica sobre a participação das tropas do país na operação que permitiu a detenção de Gbagbo. O governo disse que os soldados franceses se limitaram a destruir o armamento pesado das forças de Gbagbo e a proteger a população civil, respeitando a determinação do Conselho de Segurança da ONU.
O primeiro-ministro, François Fillon, afirmou que a missão de suas tropas foi cumprida, e prometeu uma retirada progressiva do efetivo que está na Costa do Marfim à medida que a segurança se restabeleça no país africano, em particular em Abidjan, onde reside um grande número de franceses. EFE