Teresa Bouza.
Toronto (Canadá), 26 jun (EFE).- A Cúpula do Grupo dos 20 (G20,
países industrializados e principais emergentes) começou neste
sábado em Toronto, Canadá, com consenso em torno da necessidade de
reduzir os déficit e a dívida dos países nos próximos três anos para
escorar a recuperação econômica, mas divergências no montante do
corte.
O tema de quando e como retirar as medidas de estímulo econômico
iniciadas para superar a crise se transformou no principal motivo de
atrito no seio do G20, e foca aogra a guarda da economia global.
Em um lado do debate estão países como os Estados Unidos, que
insistem - como deixou claro o secretário do Tesouro do país Timothy
Geithner - em que o G20 deve se concentrar sobretudo no crescimento,
uma postura compartilhada pelas potências emergentes como o Brasil.
No outro lado do espectro está a União Europeia (UE), com a
Alemanha à frente, que mantém que o corte do gasto público é o
objetivo prioritário.
Assim deixou claro hoje a chanceler alemã, Angela Merkel, que
disse no final da reunião do G8, que terminou horas antes do começo
do G20, que a economia global só alcançará um crescimento "durável e
sustentável" se os países consolidarem suas finanças "e
implementarem reformas estruturais ao mesmo tempo".
O ministro das Finanças, Guido Mantega, que representa o Governo
na cúpula depois da ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
que teve que acompanhar o problema das inundações no Nordeste,
alertou que a consolidação fiscal é importante.
Advertiu, de todo modo, que a incipiente e desigual recuperação
econômica global pode ser "ameaçada pela pressa na retirada dos
estímulos".
Apesar desse embate no tema que desponta como chave para que as
economias voltem a pisar em solo firme, foram observadas em Toronto
mostras de aproximação entre posturas que se confrontam.
A própria Merkel mencionou, nesse sentido, que há "consenso" na
necessidade de reduzir a despesa e o primeiro-ministro canadense,
Stephen Harper, que propôs recortar o déficit pela metade para o ano
de 2013, qualificou esse consenso de "forte".
O presidente da Comissão Europeia (órgão executivo da UE), José
Manuel Durão Barroso, foi além ao se referir em entrevista coletiva
à existência de um acordo preliminar para reduzir o déficit pela
metade em 2013 como sugere Harper.
Mantega mencionou, no entanto, que um acordo nesse sentido está
distante de estar fechado e qualificou inclusive de não realista uma
proposta desse tipo.
"É muito draconiana, um pouco difícil, um pouco exagerada", disse
em entrevista coletiva Mantega, lembrando que "há países que têm o
déficit acima de 10%" e não será possível alcançarem o objetivo
proposto.
À espera que os líderes do G20 limem as asperezas nessa frente
entre hoje e amanhã, outro dos assuntos que desponta como polêmico é
o da proposta para impor um imposto global aos bancos ou às
transações financeiras.
EUA, Reino Unido, Alemanha e França lideram essa cruzada mas
países emergentes como o Brasil deixaram claro que não estão de
acordo.
"Nós não vamos estar de acordo com isso", afirmou Mantega, que
defende que essa seja uma medida aplicada em nível individual pelos
países que o desejarem.
Está previsto, quanto ao mais, que o G20 dê neste domingo um novo
impulso à proposta para reforçar o capital dos bancos e melhorar a
transparência do setor, medidas que segundo Mantega deveriam ser
aprovadas na próxima reunião do grupo em novembro na Coreia do Sul.
Espera-se que o comunicado final a ser emitido neste domingo faça
alusão também à necessidade de buscar alternativas para a Rodada de
Doha e para dar fim às subvenções aos combustíveis fósseis. EFE