Alejandro Méndez
Buenos Aires, 22 abr (EFE).- Os marcianos aterrissam na Argentina no século 40 para se comunicar com os humanos, mas descobrem que a vida terrestre foi exterminada, entre outras causas, pelas dívidas dos países em desenvolvimento, segundo um curta de animação sobre os males do neoliberalismo produzido pela televisão estatal.
Para alívio das crianças, os marcianos recorrem a uma "brecha no espaço-tempo" para salvar à Humanidade e retornar "como heróis" ao seu planeta. O motivo é porque seu "Conselho Supremo" os condenou à morte por terem chegado "mil anos atrasados" para esta missão.
Os alienígenas, muito angustiados ao aterrissar em uma Buenos Aires reduzida a um cenário ermo cheio de escombros, recebem a ajuda de um economista que conheceram em uma viagem pelo tempo rumo a 1990. Na época, o terráqueo estudava o aumento exponencial das dívidas do mundo em desenvolvimento como possível "causa do autoextermínio" da humanidade.
"Marcianos", de distribuição gratuita para o ensino de crianças e adolescentes, mistura animações digitais com imagens reais de protestos de trabalhadores, das "villas miséria" e dos ex-presidentes argentino, Carlos Menem (1989-1999) e americanos George H. W.Bush (1989-1993) e seu filho George W. Bush (2001-2009).
Também aparece Domingo Cavallo, ministro da Economia artífice do plano neoliberal de Menem e que ocupou o mesmo cargo no final do Governo de Fernando De la Rúa (1999-2001), que renunciou em meio uma explosão popular. Logo depois a Argentina decretou a maior moratória da história econômica mundial, cerca de US$ 100 bilhões.
O curta é uma adaptação para a televisão de uma das quatro histórias em quadrinhos de análise do endividamento argentino desenvolvido pela Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Buenos Aires e seu Museu da Dívida Externa. "Marcianos" foi lançado esta semana pelo canal de televisão estatal Encuentro, que transmitirá os outros três da série impressa e distribuída em escolas secundárias em 2010, entre eles um que tem o Fundo Monetário Internacional como "vilão".
"Nas historietas se conjugam ciências econômicas, história, arte e responsabilidade social universitária", para criar "um produto cultural inovador e ilustrativo, pensado para a difusão entre os jovens", apontou o decano da Faculdade de Ciências Sociais, Alberto Barbieri, em comunicado.
No filme o economista resgatado do passado pelos extraterrestres lamenta que "finalmente veio o apocalipse nuclear" e conta que em sua época estudava "um tema silenciado pelos meios de comunicação: a dívida externa".
"Temos que atuar rapidamente e tratar de saber o mais rápido possível sobre a dívida externa e, uma vez conhecido tudo isto, usar a brecha no espaço-tempo para salvar à Humanidade e voltarmos como herois ao nosso planeta", exclama o chefe da missão marciana.
Uma das histórias em quadrinhos, "Un intruso en la familia" analisa os mais de 50 anos de relação da Argentina com o Fundo Monetário, encarnado por Francis, um galã americano que tem um relacionamento cheio de más intenções com Patricia, filha de um empresário argentino.
Francis se casa com Patricia, se apossa dos negócios do sogro, o leva à ruína e se divorcia após a crise de 2001, quando Argentina declarou moratória como resultado de quatro anos consecutivos de recessão econômica.
As peripécias dos marcianos para salvar à Humanidade e as maldades de Francis estão em tom com a opinião do Governo peronista de Cristina Fernández acerca das "receitas" e planos de ajuste do Fundo Monetário e os males do neoliberalismo que proliferou na América Latina na década dos anos 90. EFE