Alfonso Fernández.
Washington, 28 jun (EFE).- O Fundo Monetário Internacional (FMI) nomeou nesta terça-feira a ministra de Economia da França, Christine Lagarde, como nova diretora-gerente da entidade, em uma decisão que mantém a tradição de um cidadão europeu à frente do organismo internacional fundado em 1945.
"O Conselho Executivo do FMI selecionou hoje Christine Lagarde para servir como diretora-gerente do Fundo para um mandato de cinco anos que começará em 5 de julho", indicou o organismo em comunicado.
O anúncio aconteceu dois dias antes que expirasse o prazo estabelecido pelo FMI para designar o substituto do também francês Dominique Strauss-Kahn, que renunciou em maio, acusado de tentativa de estupro contra uma camareira do hotel onde se hospedava em Nova York.
Grande favorita para o cargo, Lagarde superou Agustín Carstens, governador do Banco Central do México, que havia se autodenominado o candidato dos "mercados emergentes".
Com esta nomeação, prolonga-se a predominância da Europa à frente do FMI e fica patente a incapacidade e o desinteresse dos mercados emergentes de conseguir uma candidatura de consenso.
A tradição de um europeu remonta à criação do FMI e de sua instituição 'irmã', o Banco Mundial (BM), em 1945, quando as potências econômicas da época decidiram em acordo de cavalheiros que liderariam as duas instituições - com um americano à frente do BM.
Durante todo o processo, as grandes economias emergentes como Índia, Rússia, China e Brasil evitaram manifestar apoio explícito a uma candidatura e esperaram até os últimos dias para expressar seu voto a Lagarde, dando assim as costas à proposta de Carstens.
O mexicano tinha lançado sua candidatura como um desafio às economias avançadas num momento em que os mercados emergentes estão mais cientes sobre seu potencial de crescimento e buscam aumentar seu peso específico na tomada de decisões em nível mundial.
Embora Lagarde já fosse a grande favorita desde o começo do processo de seleção, no início de junho, as atenções estavam voltadas à decisão dos EUA, que contam com a maior cota de votação no FMI, mas Washington também evitou manifestar respaldo explícito à ministra francesa até o dia da votação.
Christine Lagarde se transforma assim na quinta representante francesa a liderar o organismo multilateral, dos dez diretores-gerentes que o Fundo teve. Os outros foram Pierre-Paul Schweitzer, Jacques de Larosière, Michel Camdessus e Dominique Strauss-Kahn, responsáveis por 36 anos de gestão dos 65 de funcionamento da entidade.
Strauss-Kahn liderou um período de transposição no poder de voto no FMI, responsável por dar mais peso político aos emergentes na instituição, embora não tanto como reivindicavam esses países.
Lagarde prometeu na semana passada seguir os passos de seu antecessor nessa conduta, ao indicar que trabalhará para adaptar a estrutura de poder do Fundo à realidade econômica em transformação.
O grande desafio que se apresenta à diretora eleita é a crise financeira da Europa, tendo Irlanda, Portugal e, sobretudo, Grécia pendentes de um pacote de resgate internacional. Alguns opositores à candidatura de Lagarde criticaram-na sobre o possível conflito de interesses que isso representava.
Minutos após conhecer a designação, Lagarde emitiu um comunicado no qual reiterou seu compromisso de servir a todos os países-membros do FMI "com a mesma atenção e a mesma determinação".
Por sua vez, Carstens felicitou a nova diretora-gerente do FMI em comunicado no qual afirmou que Lagarde será uma "líder muito competente" do organismo internacional.
A titular de Economia francesa, de 55 anos, será a primeira mulher a ocupar o cargo nas mais de seis décadas de história da instituição. EFE