Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Após superar os 5,70 reais pela manhã, o dólar à vista fechou a quarta-feira abaixo deste nível e próximo da estabilidade, com o mercado ponderando por um lado o avanço da moeda norte-americana no exterior e por outro as reiteradas promessas do governo Lula de contenção de despesas.
O dólar à vista fechou em leve alta de 0,09%, cotado a 5,6637 reais. Em outubro a divisa acumula elevação de 3,94%.
Às 17h44, na B3 (BVMF:B3SA3) o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,23%, a 5,6730 reais na venda.
Na terça-feira o dólar havia disparado 1,36% ante o real, com a moeda brasileira sendo penalizada pela queda forte de commodities como minério de ferro e petróleo influenciada pela desaceleração da economia chinesa e pela dinâmica do conflito no Oriente Médio.
Nesta quarta-feira o dólar chegou a oscilar em baixa no início da sessão, devolvendo parte dos ganhos da véspera. Às 9h12 a moeda à vista marcou a cotação mínima de 5,6352 reais (-0,42%).
No entanto, novamente o cenário externo conturbado passou a pressionar o câmbio no Brasil.
Lá fora, o dólar sustentava ganhos ante boa parte das divisas, com investidores precificando corte menor de juros nos EUA em novembro e a probabilidade de uma vitória do republicano Donald Trump sobre a democrata Kamala Harris na corrida presidencial norte-americana.
O plano de Trump de implementar cortes de impostos, regulamentações financeiras mais flexíveis e tarifas de importação mais altas é visto como um fator de impulso para o dólar ante as demais divisas.
“Do lado do Trump, que tem saído na frente em algumas pesquisas, a sensação é de que haverá maior protecionismo, o que traz certo fortalecimento do dólar no curto prazo”, comentou Guilherme Suzuki, sócio da Astra Capital.
Além do exterior, o mercado seguiu repercutindo nesta quarta-feira o cenário fiscal no Brasil. As taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) voltaram a subir em meio à desconfiança quanto a capacidade do governo Lula de equilibrar as contas públicas.
Na terça-feira, antes mesmo de qualquer anúncio concreto de medidas, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse que algumas iniciativas de contenção de gastos estão “interditadas” pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, citando que a política de ganhos reais do salário mínimo não será alterada.
Nesta quarta-feira, por sua vez, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a agenda de revisão de gastos públicos é tema a ser tratado com prioridade pelo governo até o fim do ano. Segundo ele, serão propostas de medidas “consistentes” para que o arcabouço fiscal tenha vida longa.
“Eu nem estou falando em corte, eu quero muito mais uma calibragem da dinâmica da evolução dos gastos para caber dentro do arcabouço fiscal”, disse o ministro.
Em meio ao avanço firme do dólar no exterior e ao debate interno no governo sobre medidas de contenção de gastos, a moeda norte-americana à vista saltou para a máxima de 5,7012 reais (+0,75%) às 9h58, ainda na primeira hora de negócios.
Apesar de ter tocado os 5,70 reais, o dólar não se sustentou acima deste nível. Alguns agentes aproveitaram as cotações mais altas para vender moeda, em movimento semelhante ao visto em sessões da semana passada.
Durante a tarde, o Banco Central informou que na semana passada, de 7 a 11 de outubro, o Brasil registrou a entrada líquida de 3,246 bilhões de dólares. Neste período houve fluxo positivo tanto pela via financeira (1,684 bilhão de dólares) quanto pela via comercial (1,561 bilhão de dólares), com destaque para a segunda-feira (7 de outubro) e para a sexta-feira (11 de outubro).
A forte entrada de dólares no Brasil na segunda e na sexta-feira da semana passada ocorreu em sessões em que a cotação da moeda norte-americana oscilou perto de pontos técnicos importantes. Na segunda, o dólar à vista esteve muito próximo de bater os 5,50 reais durante a sessão e, na sexta, a divisa superou os 5,60 reais.
Em pontos técnicos como estes, é comum que exportadores aproveitem para internalizar dólares e investidores façam aportes no Brasil, beneficiando-se da relação dólar/real.
No fim da tarde desta quarta-feira, o dólar se mantinha em alta ante boa parte das divisas no exterior. Às 17h42 o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,25%, a 103,520.
No fim da manhã, o BC vendeu todos os 14.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão para rolagem do vencimento de 2 de dezembro de 2024.