Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou com ligeira alta nesta segunda-feira, mas ainda em torno de mínimas em quatro meses, depois de mais cedo cair abaixo de 5,20 reais, com operadores mantendo posições num dia sem grandes catalisadores para o mercado, que aguarda ao longo da semana dados nos Estados Unidos e, aqui, a ata do Copom e novidades sobre a agenda de reformas.
O dólar à vista teve variação positiva de 0,10%, a 5,233 reais na venda, não distante da mínima atingida em 14 de janeiro (5,212 reais). A cotação variou no dia de 5,2535 reais (+0,50%) a 5,1977 reais (-0,57%).
No exterior, o índice do dólar em relação a uma cesta de moedas fortes tinha oscilação positiva de 0,09%. As bolsas de valores de Nova York pioraram o sinal na parte da tarde, o que evitou que o dólar caísse por aqui.
Mas alguma pausa já era esperada no câmbio, depois de o dólar vir de três quedas seguidas, a menor delas de 0,97%. Indicadores técnicos já vêm apontando a moeda aproximando-se de terreno de subvalorização, o que pode limitar novas baixas nos próximos dias.
Investidores vão acompanhar na terça a ata do Copom --que poderá confirmar o tom mais duro do Banco Central sobre a inflação e, por tabela, a política monetária. O dólar teve na semana passada a maior desvalorização desde dezembro e apenas na quinta perdeu 1,6%, um dia depois de o BC abrir a possibilidade de um ciclo mais robusto de aperto monetário.
Além disso, na quarta serão divulgados dados de inflação nos Estados Unidos, que se vierem mais brandos poderão fortalecer expectativas de que o banco central norte-americano manterá estímulos por mais tempo. Esse mesmo racional fez o dólar despencar em todo o mundo na sexta-feira, na esteira de números fracos de emprego nos EUA.
O noticiário de Brasília também segue na mira dos agentes financeiros, sobretudo o relacionado à agenda de reformas. A tramitação e o formato da reforma tributária devem ser definidos nesta semana, disse o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), nesta segunda-feira.
Após o acordo do Orçamento fechado em abril, o mercado voltou a apostar fichas em aprovação de medidas estruturantes neste ano, vendo maior coesão entre governo e líderes do Congresso (o que ajudou na queda do dólar desde o mês passado), a despeito da CPI da Covid em curso no Senado.
Fábio Coelho, gestor de fundos líquidos da Arazul Capital, ainda vê o dólar com espaço para cair nos próximos meses, mesmo após a desvalorização de 8,6% desde a máxima de abril.
"Agora com a moeda perto de 5,25 reais acho até que pode dar uma pausa, mas mantidas as atuais condições do cenário político penso que o dólar pode testar 5 reais ou mesmo abaixo disso", afirmou, dizendo que tem aproveitado o alívio no câmbio para aumentar exposição a empresas com receitas em dólar e BDRs (ativos negociados em bolsa que permitem a investidores brasileiros acesso a empresas estrangeiras).
A recuperação do real chamou atenção de investidores internacionais. Segundo o Morgan Stanley, a moeda brasileira se beneficia da maior posição "overweight" (acima da média do mercado) em portfólio de moedas emergentes do banco --junto com a lira turca.
Estrategistas da instituição norte-americana dizem que há um movimento de saída de moedas de baixo rendimento para divisas "high beta" --ou seja, que podem se valorizar mais em tempos de maior apetite por risco. A avaliação ocorre num momento em que o Banco Central eleva os juros no Brasil, aumentando a taxa de retorno do real frente a seus pares.