O dólar emendou o segundo dia seguido de queda na sessão desta terça-feira, 18, e voltou a fechar abaixo da linha de R$ 5,30, apesar do sinal misto da moeda americana no exterior. Operadores relataram entrada de capital estrangeiro para a bolsa brasileira ao longo do pregão, marcado por apetite ao risco e alta firme dos mercados acionários em Nova York.
Sem indicadores de peso e novidades na corrida presidencial, a sessão foi morna e de liquidez moderada, com o dólar oscilando apenas cerca de cinco centavos entre a mínima (R$ 5,2417) e a máxima (R$ 5,2991). No fim do dia, a divisa era negociada a R$ 5,2547, em queda de 0,91% - o que levou as perdas acumuladas em outubro a 2,59%. Em 2022, o dólar recua 5,76%.
No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - operou entre estabilidade e leve alta, acima da linha dos 112,000 pontos, com queda frente ao euro e ganhos na comparação com o iene e a libra. Contratos de gás natural negociados na Europa apresentaram baixa de dois dígitos após a União Europeia anunciar planos para conter os preços da commodity, com criação de novo benchmark. No Reino Unido, o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) confirmou nesta terça que adiará o início das vendas de gilts, os bônus britânicos, para 1º de novembro.
Com algumas exceções, como o real e o dólar neozelandês, a moeda americana avançou na comparação com divisas emergentes, em dia de tombo do petróleo e de perdas de commodities agrícolas e metálicas. O barril do tipo Brent para dezembro, referência para a Petrobras (BVMF:PETR4), caiu 1,72%, a US$ 90,03.
Analistas comentam que a taxa de juro real doméstica elevada, fruto da combinação de Selic em 13,75% ao ano com queda das expectativas de inflação, desestimula apostas contra o real, favorecido também pelo desempenho positivo da economia brasileira na comparação com outros países emergentes.
"Os balanços americanos estão vindo bem, o que estimula o apetite ao risco. O dólar acaba caindo aqui e se mantém numa faixa confortável para os estrangeiros, entre R$ 5,20 e R$ 5,40", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, acrescentando que a divulgação de dados fortes da indústria americana, que sugerem mais aperto monetário nos EUA, não chegaram a abalar os negócios.
Pela manhã, foi divulgado que a produção industrial dos Estados Unidos subiu 0,4% em setembro em relação a agosto, acima das expectativas (+0,1%). Na contramão, o índice de confiança das construtoras nos EUA caiu de 46 em setembro para 38 em outubro, bem abaixo do esperado (44). Foi 10ª queda consecutiva. A rodada de alta da taxa básica americana já se reflete em piora nas condições de crédito imobiliário. À tarde, o presidente do Federal Reserve de Atlanta, Raphael Bostic, admitiu que pode haver "alguma dor no curto prazo" em razão do ciclo de aperto monetário para controlar a inflação, que está "muito elevada".
Apesar do recuo do dólar e de relatos de entrada de capital externo, o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, vê cerca cautela do investidor local e estrangeiro com a corrida eleitoral como um empecilho para uma rodada maior de apreciação do real nos próximos dias.
"Como Ibovespa subindo mais de 1%, era para o dólar até ter caindo mais aqui, mesmo com o dia negativo para commodities", afirma Velloni, que vê possibilidade de uma descida da moeda americana para a faixa de R$ 5,00 assim que de dissiparem as incertezas sobre a condução da política econômica em 2023. "O mercado ainda espera o nome do ministro da Fazenda do Lula, que é o favorito para a eleição".
Fontes ouvidas pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) afirmaram que o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), ordenou ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que anuncie uma medida econômica a cada pelo menos dois dias até o segundo turno da eleição presidencial, no próximo dia 30.