Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar tornou a mostrar forte alta pela segunda sessão consecutiva nesta quarta-feira, encerrando agosto acima de 5,20 reais e mais do que apagando a queda acumulada no mês até a véspera, num dia combalido para divisas emergentes em geral em meio a nova debacle nos preços das commodities.
O real sofreu adicionalmente com percepção de saída de recursos relacionada ao pagamento de dividendos da Vale (BVMF:VALE3) e da Petrobras (BVMF:PETR4) a investidores de posse de ADRs, com bancos contratados remetendo os valores a clientes externos. O ingresso anterior de capital derivado da necessidade das empresas de fazer caixa para realizar os pagamentos teria turbinado a queda recente do dólar, segundo relatos.
A volatilidade ganhou ainda mais estímulo pela formação da Ptax de fim de mês.
No fechamento das operações no mercado à vista, o dólar saltou 1,74%, a 5,2007 reais na venda. O ganho percentual é o mais intenso desde 2 de agosto (1,93%) e o patamar de encerramento é o mais alto desde o último dia 4 (5,2228 reais).
A cotação se manteve em alta por todo o pregão. Na mínima, subiu 0,23%, a 5,1239 reais, e no pico bateu 5,2124 reais, apreciação de 1,96%.
Em dois dias, o dólar subiu 3,33%, maior alta percentual para esse intervalo desde 13 de junho (3,97%). A velocidade do movimento fez a taxa de câmbio colar em sua média móvel de 200 dias, acima da qual não opera desde o começo de agosto. Uma superação consistente dessa linha de resistência poderia acionar novas ordens de compra que poderiam intensificar a alta da moeda norte-americana.
Com a forte valorização, a divisa não apenas apagou a perda de 1,17% vista no acumulado do mês até a véspera como concluiu agosto em alta de 0,54%. No ano, reduziu a queda para 6,69%.
O real seguiu o bloco de moedas emergentes em queda, com essa classe de ativos sendo punida depois de performar melhor enquanto as commodities estavam em rota ascendente.
Mas novamente o noticiário nessa frente não ajudou. O minério de ferro --um dos principais produtos exportados pelo Brasil-- negociado em Dalian (China) voltou a cair nesta quarta-feira e marcou sua terceira queda mensal consecutiva. E o petróleo fechou o pregão com baixas entre 2,3% e 2,8%.
"No curto prazo (até fim do ano), talvez o cenário seja mais negativo para o câmbio (dólar para cima)", disse Dan Kawa, sócio e responsável pela área de gestão da TAG Investimentos.
"Estamos vendo um ciclo de queda das commodities, é ruim para o Brasil. Temos eleição à frente, a visibilidade é baixa, a eleição tende a ser acirrada. E o mundo está em situação de bastante fragilidade", afirmou o profissional.
O salto do dólar nesta quarta foi acompanhado por forte demanda de opções de compra da moeda norte-americana ("calls") comparativamente a opções de venda ("puts"). A medida para um mês disparou para o maior nível desde 23 de junho, indicativo de maior crença na valorização do dólar no período.
Daniel Tatsumi, gestor de moedas da ACE Capital, disse estar comprado em dólar (vendo alta da moeda) contra real e outras divisas, citando a política monetária dos EUA, inflação global, instabilidade nos preços das matérias-primas e problemas econômicos na China --principal destino das exportações brasileiras.
"O real está à deriva. Os movimentos lá fora estão mais fortes", disse, apontando que os temas externos por ora devem continuar se sobressaindo. "(Mas) o real não vai ter uma volatilidade muito maior do que as outras moedas, vai ser em linha."
Setembro será o mês anterior às aguardadas eleições presidenciais no Brasil. O dólar teve desempenho misto nesse mês nos últimos anos eleitorais: 2018 (-0,87%), 2014 (+9,33%), 2010 (-3,89%), 2006 (+1,21%) e 2002 (+24,75%).