Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em alta de 1 por cento frente ao real nesta terça-feira, após dados mais fortes que o esperado sobre a economia dos Estados Unidos alimentarem expectativas de alta de juros neste ano e depois do cancelamento de audiência pública com o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, no Senado.
Assim como na sessão anterior, o volume de negócios foi baixo, com operadores evitando grandes apostas antes do início do julgamento do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, na quinta-feira, e do discurso da chair do Federal Reserve, banco central norte-americano, Janet Yellen, no dia seguinte.
O dólar avançou 1,00 por cento, a 3,2335 reais na venda, após chegar a 3,2367 reais na máxima e a 3,1849 reais na mínima do dia. O dólar futuro subia cerca de 0,90 por cento no fim desta tarde.
"Houve um movimento global de alta do dólar hoje, potencializado pelos dados dos EUA, e o Brasil ficou refém disso", disse o superintendente de câmbio da corretora Intercam, Jaime Ferreira.
Apesar da alta dos preços do petróleo, o dólar fortalecia em relação às principais moedas emergentes após as vendas de novas moradias nos EUA atingirem o maior patamar em quase nove anos em julho.
O peso mexicano, em especial, sofreu fortemente nesta sessão, golpeado também pela decisão da Standard & Poor's de piorar a perspectiva para a nota de crédito do México.
Operadores vêm debatendo intensamente a possibilidade de o Fed elevar os juros neste ano, que vem ganhando força diante de declarações otimistas de diversas autoridades do banco central norte-americano.
Investidores voltarão a calibrar essas apostas na sexta-feira, quando Yellen falará em conferência de bancos centrais em Jackson Hole, nos EUA. Juros norte-americanos mais altos podem pressionar moedas emergentes, que costumam atrair recursos externos com rendimentos elevados.
No Brasil, o dólar chegou a recuar pela manhã, mas alinhou-se ao cenário externo após o cancelamento da audiência pública de Ilan no Senado por conta da sessão conjunto no Congresso Nacional. Segundo a presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), senadora Gleisi Hoffman (PT-PR), a audiência pode ser remarcada para o dia 6 ou 13 de setembro.
"(O cancelamento) coloca um pouco mais de ruído no mercado, que já ficou um pouco desconfortável com os dados dos EUA de manhã", disse o operador de um banco internacional, sob condição de anonimato.
Investidores esperavam obter novas pistas sobre as intenções do BC no mercado de câmbio, após recentes declarações do presidente interino Michel Temer gerarem alguma confusão sobre se a instituição vai agir para evitar quedas mais fortes do dólar.
Nesta manhã, o BC vendeu novamente 10 mil swaps reversos, que equivalem a compra futura de dólares, mantendo o ritmo mais lento de intervenções. A autoridade monetária chegou a vender 15 mil swaps reversos por dia entre 11 e 18 deste mês.
No Brasil, investidores aguardavam ainda o início do julgamento de Dilma, marcado para quinta-feira e que deve terminar na semana que vem. Espera-se amplamente que seu impeachment seja confirmado, o que pode servir de gatilho para mais entradas de capitais no país.
"Contanto que o quadro externo de apetite por risco permaneça, o real deve continuar apresentando bom desempenho, embora haja alguns riscos domésticos que é preciso ter em mente (recessão, desemprego e incerteza política)", escreveram analistas do HSBC em relatório.
Eles projetam que o dólar terminará o terceiro trimestre a 3,35 reais, mas reconhecem a possibilidade de terem de revisar para baixo essa projeção.
(Edição de Patrícia Duarte)