Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar firmou-se em alta frente ao real nesta terça-feira, após passar boa parte da manhã em queda, com investidores comprando divisas após o cancelamento de audiência pública com o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, no Senado Federal e reagindo a dados fortes sobre a economia norte-americana, que poderiam aumentar chances de um aumento de juros neste ano.
A cautela vem predominando desde a sessão passada, com operadores evitando grandes apostas antes do início do julgamento do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, na quinta-feira, e do discurso da chair do Federal Reserve, banco central norte-americano, Janet Yellen, na sexta-feira.
Às 12:34, o dólar avançava 0,21 por cento, a 3,2081 reais na venda, após chegar a 3,2149 reais na máxima e a 3,1849 reais na mínima do dia. O dólar futuro subia cerca de 0,10 por cento nesta manhã.
"(O cancelamento) coloca um pouco mais de ruído no mercado, que já ficou um pouco desconfortável com os dados dos EUA de manhã", disse o operador de um banco internacional, sob condição de anonimato.
Segundo a presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), a senadora Gleisi Hoffman (PT-PR), a audiência pública com Ilan pode ser remarcada para o dia 6 ou 13 de setembro. Ela foi desmarcada nesta manhã por conta da sessão conjunta do Congresso Nacional.
Investidores esperavam obter novas pistas sobre as intenções do BC no mercado de câmbio, após declarações do presidente interino Michel Temer gerarem alguma confusão sobre se a instituição vai agir para evitar quedas mais fortes do dólar.
Nesta manhã, o BC vendeu novamente 10 mil swaps reversos, que equivalem a compra futura de dólares, mantendo o ritmo mais lento de intervenções. A autoridade monetária chegou a vender 15 mil swaps reversos por dia entre 11 e 18 deste mês.
O cancelamento da audiência levou o mercado local a se alinhar com os mercados externos. Apesar da alta dos preços do petróleo, o dólar se fortalecia levemente em relação às principais moedas emergentes após as vendas de novas moradias nos EUA atingirem o maior patamar em quase nove anos em julho.
Operadores vêm debatendo intensamente a possibilidade de o Fed elevar os juros neste ano, que vem ganhando força diante de declarações otimistas de diversas autoridades do banco central norte-americano.
Investidores voltarão a calibrar essas apostas na sexta-feira, quando Yellen falará em conferência de bancos centrais em Jackson Hole, nos EUA. Juros norte-americanos mais altos podem pressionar moedas emergentes, que costumam atrair recursos externos com rendimentos elevados.
"O mercado não tem muito em cima do que operar, deve dar uma aquecida conforme a semana for avançando", disse mais cedo o operador da corretora B&T Marcos Trabbold.
Além disso, investidores aguardavam o início do julgamento de Dilma, marcado para quinta-feira e que deve terminar na semana que vem. Espera-se amplamente que seu impeachment seja confirmado, o que pode servir de gatilho para mais entradas de capitais no país.
"Contanto que o quadro externo de apetite por risco permaneça, o real deve continuar apresentando bom desempenho, embora haja alguns riscos domésticos que é preciso ter em mente (recessão, desemprego e incerteza política)", escreveram analistas do HSBC em relatório.
Eles projetam que o dólar terminará o terceiro trimestre a 3,35 reais, mas reconhecem a possibilidade de terem de revisar para baixo essa projeção.