Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar à vista fechou praticamente estável ante o real nesta quinta-feira, com as cotações reagindo à aversão a ativos de risco no exterior, em um dia marcado por novas declarações do chair do Federal Reserve, e à decisão de política monetária do Banco Central no Brasil na noite da véspera.
O dólar à vista fechou o dia cotado a 4,7719 reais na venda, com leve alta de 0,08%.
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 17:25 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,22%, a 4,7795 reais.
Pela manhã, a moeda norte americana chegou a operar em baixa ante o real, com investidores repercutindo a decisão da véspera do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
O colegiado manteve a Selic em 13,75% ao ano, como esperado, mas ainda adotou um tom duro em seu comunicado ao avaliar a inflação. No texto, o colegiado defendeu que é preciso ter "paciência" no controle da inflação e vinculou eventual corte da Selic aos dados econômicos.
O tom ainda duro -- ou hawkish, na linguagem do mercado -- do comunicado elevou a percepção de que a Selic poderá seguir em patamares elevados por mais tempo que o inicialmente previsto, o que mantém o diferencial de juros para o Brasil em patamares mais altos. Na prática, o país seguiria atrativo aos investimentos estrangeiros, o que pesou sobre as cotações.
Na mínima do dia, às 9h42, o dólar à vista foi cotado a 4,7514 (-0,35%).
“O mercado apostava em corte de juros na próxima reunião (agosto), mas a eventual manutenção pode atrair ainda mais recursos estrangeiros para o Brasil”, pontuou Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora.
O viés de queda para o dólar, no entanto, foi ofuscado pelo cenário externo, onde havia uma fuga de ativos de maior risco, como o real e demais moedas de países emergentes ou exportadores de commodities.
A aversão ao risco foi disparada por novas declarações de Powell a congressistas norte-americanos. Segundo ele, os cortes de juros nos EUA devem esperar até que o Fed tenha confiança de que a inflação está caindo para 2%.
"Não vemos isso acontecendo tão cedo", disse Powell ao Comitê Bancário do Senado no segundo dia de depoimentos no Congresso. "O teste para isso é que estejamos confiantes de que a inflação está voltando para nossa meta de 2%. Queremos ter alguma confiança."
As declarações fortaleceram a moeda norte-americana em todo o mundo. No Brasil, o dólar marcou a maior cotação do dia, de 4,7882 reais (+0,42%), às 14h34, quando também acelerava ante uma cesta de moedas fortes.
Depois disso, no entanto, a moeda voltou a se aproximar da estabilidade no Brasil. Operador ouvido pela Reuters ponderou que, apesar das tendências trazidas pelo Copom e por Powell para os negócios do dia, os participantes do mercado de câmbio estavam retraídos, montando posições mais curtas à espera de novidades que, de fato, alterassem as expectativas em relação ao real.
Prova disso é que, da mínima para a máxima do dia, a oscilação do dólar foi de apenas 0,77%, em um sinal de que a divisa dos EUA operou em margens estreitas.
No fim da tarde, o viés para o dólar no exterior ainda era positivo.
Às 17:25 (de Brasília), o índice do dólar --que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas-- subia 0,38%, a 102,410.