Bruxelas, 3 jun (EFE).- As incertezas em torno da ratificação do
Tratado de Lisboa condicionam o futuro imediato do Parlamento
Europeu que sairá das urnas das eleições que acontecem de amanhã a
domingo.
Para começar, na campanha eleitoral não se menciona que a
principal novidade da Eurocâmara, caso entre em vigor o acordo de
Lisboa, é que os eurodeputados terão novos poderes de decisão,
especialmente nas áreas de Justiça e Interior.
Com Lisboa em vigor, o Parlamento Europeu controlará praticamente
toda a legislação comunitária - atualmente detém aproximadamente 75%
dela.
No entanto, nenhum dirigente europeu se atreve a colocar essa
importante novidade na campanha, "porque ninguém quer dar como certo
que o resultado do segundo plebiscito da Irlanda será positivo".
Isso poderia causar uma reação contraproducente nesse país,
afirma Jacqui Davis, analista do Centro de Política Europeia, um dos
principais centros de estudos de Bruxelas, à Agência Efe.
O resultado é que o crescente poder da Eurocâmara no processo
legislativo europeu, um argumento "importante e simples" por si só
na hora de pedir votos e combater abstenções, "não tem sido
mencionado" na campanha, lamenta Davis.
Outra prova da incerteza que domina o pleito é que não se sabe
sequer quantos eurodeputados finalmente o Parlamento terá, já que
depende da ratificação do Tratado de Lisboa o futuro de 18 membros.
É que as eleições que serão concluídas no próximo domingo nos 27
países que compõem a União Europeia (UE) serão realizadas segundo as
normas do Tratado de Nice (que prevê 754 eurodeputados), atualmente
em vigor. O acordo de Lisboa prevê, por sua vez, 736 legisladores.
Os 18 eurodeputados "fantasmas" poderiam assumir o cargo tão logo
o Tratado de Lisboa entre em vigor, de acordo com compromisso
assumido em dezembro de 2008, que prevê que o objetivo é fazer com
que a ampliação se torne efetiva "possivelmente" em 2010.
No entanto, o mecanismo legal concreto que permitirá a
incorporação desses membros ainda deve ser estipulado pelos 27
Estados.
Outra questão ainda sem resposta é como escolher os eurodeputados
"fantasmas".
Espanha e outros países não teriam problemas, pois seus sistemas
eleitorais de listas nacionais únicas tornam simples a escolha de
quatro deputados mais, que não assumiriam o cargo até que ocorresse
a ratificação de Lisboa.
A mudança no Parlamento Europeu propiciada pelas eleições que
começam amanhã é a primeira de uma série de grandes transformações
que afetarão até o final do ano as principais instituições da UE,
começando pela Comissão Europeia, o órgão executivo do bloco, que
será renovado em outubro.
Se o resultado da consulta popular irlandesa for positivo, e o
Tratado de Lisboa entrar finalmente em vigor, a UE terá pela
primeira vez um presidente estável como face visível do Velho
Continente no mundo. EFE